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Relato de parto Ilustrado

  • Ananda Borges
  • 1 de jun. de 2017
  • 16 min de leitura

Parto domiciliar planejado Aurora - 24/11/16 – 39 semanas e 2 dias 3.045kg, 48 cm Equipe: Nascentia - enfermeiras Lissandra e Letícia Obstetra: Carolina Amorim Doula: Glaucia Velho Fotógrafa: Mari Cardoso


Desde antes de antes de engravidar, eu já tinha certeza de que queria ter um parto normal. Eu pesquisava e estudava bastante sobre parto, as fases do trabalho de parto, como aliviar a dor etc. Foi acompanhando as postagens da minha amiga Aláya Dullius que “ouvi” falar pela primeira vez em doula, parto natural, parto humanizado e parto domiciliar, eu achava que ter bebê em casa só era possível na época da minha vó porque não tinham alternativas e que o normal hoje em dia era no hospital, com soro na veia, deitada na maca com as pernas pra cima, tapinha na bunda do bebê pra ele chorar... Mesmo assim eu queria. Eu assisti ao documentário “O Renascimento do Parto” e percebi que muitas das práticas realizadas hoje em dia eram desnecessárias. Passei a pesquisar mais ainda, entrei no mundo do parto humanizado, comecei a assistir a todos os vídeos da Alaya, entrei em vários grupos no facebook, li milhares de relatos de parto, assisti a vários vídeos de parto, li artigos, reportagens, textos e tomei minha decisão: quando eu engravidar, meu bebê vai ser acolhido neste mundo da forma mais natural possível, respeitando o tempo dele, sem intervenções desnecessárias. Eu sabia que não seria fácil por causa da visão dos médicos de hoje em dia, mas eu estava munida de muita informação e me sentindo preparada pra brigar pelo o que eu queria e acreditava.

Eu descobri a gravidez num domingo de páscoa, estava de 5 semanas. Foi a coisa mais linda que já me aconteceu! Imaginar um serzinho crescendo e um coraçãozinho batendo aqui dentro de mim era mágico! Era meu bebê tão desejado, tão esperado e já tão amado! Era impossível pra mim imaginar o meu bebê passando por algo que lhe trouxesse sofrimento, eu só queria que ele se sentisse bem e amado. E assim começou nossa jornada! Eu tinha certeza que queria um parto natural e humanizado, mas não sabia por onde começar. Eu sabia também que eram poucos os médicos que estavam dispostos a fazer esse tipo de parto. Eu ainda me imaginava indo pro hospital ou pra maternidade, não tinha parado pra pensar em parto domiciliar, isso nem passava pela minha cabeça ainda. Uma amiga me indicou uma médica na Maternidade Brasília, cheguei lá meio perdida e não me senti acolhida, não quis mais voltar.


Eu já estava com 8 semanas e ainda não tinha conseguido um médico, não tinha feito nenhum exame, estava super ansiosa. Conversei com algumas colegas de trabalho e todas me indicavam seus médicos ‘maravilhosos’, mas todas tinham feito cesárea e os médicos nunca tinham conversado sobre parto normal com elas. Achei melhor não arriscar. Lembrei da minha amiga Oriana, que tinha tido um parto normal recentemente, e pedi indicação do médico dela. Ela me indicou a Nascentia, equipe de enfermeiras obstétricas que fazem parto domiciliar. Foi só aí que eu descobri que existiam essas equipes de enfermeiras e que não era necessária a presença de um médico pra ter um parto em casa. Conversei com a Lissandra pelo Whats App, marquei uma consulta com ela. Nesse meio tempo, pesquisei outros grupos e fui num encontro na Casa Humaniza, em Taguatinga. Aí lá tudo mudou pra mim! Eu entendi como funcionava o parto domiciliar, entendi o que precisava pra ele ser seguro e me encantei! Saí de lá querendo muito parir em casa. Expliquei pro Pedro, meu marido, sobre essa possibilidade meio receosa de ele não gostar da ideia, mas ele adorou e super apoiou! Fui à primeira consulta com a Letícia e Lissandra da Nascentia e me apaixonei por elas no primeiro encontro. Me senti super acolhida, tirei todas minhas dúvidas, angústias, ansiedades, saí do consultório flutuando! Fechamos o contrato com elas de pré-natal e parto domiciliar. Elas me indicaram a Dra. Carolina Amorim, que também foi amor à primeira vista. E assim minha equipe estava montada! Quanta alegria, meu Deus! Ter uma equipe maravilhosa, profissional, experiente e acolhedora desde o comecinho da gestação foi o que me deixou confiante de que conseguiria ter um parto respeitoso como eu sonhava. Eu estava relaxada e tranquila e assim foi a gestação toda.

A gestação foi evoluindo normalmente, sem nenhuma intercorrência. Tudo fluiu muito naturalmente. Não tive enjoos, nem nenhum incômodo, consegui dormir bem até o último dia, não senti dores, nem peso na lombar, não tive inchaço nas pernas nem nos pés, foi tudo perfeito demais! Só me sentia grávida porque a barriga crescia e minha filha se mexia bastante. Eu fiz pilates desde as primeiras semanas de gravidez até um dia antes de parir, foi maravilhoso, atribuo a ele o meu bem-estar e agradeço minha querida instrutora Camila Oliveira, estúdio Lótus, por todo apoio. Fazia também drenagem linfática uma vez por semana e comecei a fazer caminhadas todos os dias. Como não tinha tempo de fazer caminhadas em alguma pista apropriada, comecei a estacionar num lugar mais longe no meu trabalho e assim me obrigava a caminhar 20 minutos pra ir até minha sala e 20 minutos pra voltar pro carro, essa caminhada era ótima, pode parecer pouco, mas fez muita diferença na minha disposição. Fiz também fisioterapia pélvica, com a Caroline Viana, Fisio&pelve, que foi ótima pra me dar consciência corporal e entender como seria lá na hora do parto.

E assim chegamos à 39ª semana e eu não tinha nenhum sinal concreto de que o parto estaria perto. Eu sentia algumas contrações de treinamento desde a 20ª semana, então nem dava muita atenção pra elas. A gravidez toda foi pra mim um lindo exercício de entrega. Eu estava totalmente entregue, sabendo que a natureza é perfeita e que faria seu trabalho lindamente. Eu não sentia nem um pingo de ansiedade, conversava com minha filha e falava que ela poderia curtir bastante a barriga, que poderia ficar aqui dentro o quanto ela quisesse e enquanto ainda estivesse confortável pra ela. Eu tava preparada pra esperar até a 42ª semana se a gestação chegasse até lá.

Com 39+1, decidimos trocar a caixa d’água de casa, nossa casa é alugada, havíamos nos mudado há pouco tempo e a caixa que estava lá estava muito velha. Como eu estava tranquila e ainda não estava tendo nenhum sinalzinho sequer, estava tudo bem, daria tempo de trocar. Chamamos uns pedreiros e eles começaram a bagunça. Só não contamos com a possibilidade de eles fazerem tudo errado... Eles passaram o dia em casa mexendo na caixa d’água e foram embora, deram o serviço como pronto. Em questão de 20 minutos depois que eles foram embora, surgiram duas cachoeiras na minha sala... A água começou a entrar pelos buracos das lâmpadas. Foi uma molhaçada geral, um desespero. Corri, desliguei o registro geral, liguei pro pedreiro, liguei pro Pedro, avisei do acontecido, busquei vários baldes e bacias e panos e comecei os agachamentos secando o chão, esvaziando as bacias... Os pedreiros voltaram, olharam, inventaram um monte de desculpas e disseram que voltariam no outro dia cedo. Passamos a noite sem água. Foi a primeira vez que falei pra Aurora não nascer. Falei: “filha, tá uma bagunça aqui fora, não vem ainda, espera só mamãe e papai organizarem tudo pra você chegar tranquilinha”.

Ela não me ouviu. Como boa sagitariana que é, aventura é com ela mesma! Desde antes de nascer, já se mostrou uma pessoa decidida, direta, objetiva. “Nada de pródromos de 15 dias, nada de liberar meu tampão com antecedência, nada de estourar minha bolsa, me deixa aqui com meu líquido e com tudo que é meu. Na hora que eu quiser sair daqui, eu saio e pronto”. E assim foi. Ela decidiu que queria nascer no meio da bagunça.

24/11/2016. 39+2. Era 2h30 da madrugada e eu acordei com uma dor de barriga. Corri no banheiro. Diarreia... Pensei: “huuuuum, legal! Meu corpo começou a se limpar. Um primeiro sinalzinho!”. Voltei a dormir. Às 3h30 de novo, outra dor de barriga, mas desta vez acompanhada por umas cólicas levinhas que iam e voltavam, estavam tão fraquinhas que não me incomodavam. Voltei a dormir. Às 5h acordei porque elas estavam mais chatinhas e não consegui mais dormir. Fiquei na cama curtindo, sentindo as cólicas irem e voltarem. O Pedro acordou às 6h e falei que tava sentindo umas contrações de leve. Ele ficou todo animado (tava mais ansioso que eu) e disse que não iria trabalhar, então. Eu falei: “que nada! São só os pródromos, ela vai nascer daqui uma semana, mais ou menos, sendo que pode nascer até daqui duas semanas. Relaxa, pode ir trabalhar tranquilo”. Eu já não estava trabalhando, tinha tirado férias uma semana antes, estava saindo de casa só pra ir pra fisioterapia pélvica, pro pilates e pra massagem. Neste dia, eu tinha pilates, mas mandei mensagem pra Camila desmarcando.

Quando deu 8h, os pedreiros chegaram pra arrumar a bagunça. As cólicas leves se transformaram em contrações leves que estavam bem espaçadas. Avisei a equipe, contei das dores de barriga, das cólicas e do problema com a água. A Lissandra me disse pra tentar descansar. Mas o pedreiro vinha toda hora me pedir alguma coisa e depois começou a me pedir para testar as torneiras e chuveiros. Ele ficava em cima da casa gritando; “testa a torneira da cozinha”, “abre a torneira do banheiro social”, e eu ia testando, respirando durante as contrações, tentando manter a paciência com ele. Até que ele gritou: “testa o chuveiro do banheiro social”. Quando cheguei no banheiro, senti uma contração mais forte, a primeira que me atrapalhou de falar. Fiquei apoiada na pia, respirando. E o pedreiro gritando de cima da casa: “e aíííííí!!Tá funcionando?”, eu só consegui responder: “calma aííííííííí!!”.

Então liguei pro Pedro e pedi pra ele vir pra casa, eu já não tava mais aguentando aquele pedreiro. Tudo que eu queria era tomar um banho quente e relaxar pra saber se era trabalho de parto mesmo ou se era alarme falso. Mas continuávamos sem água... Acabou que o pedreiro não resolveu, o Pedro mandou ele ir embora e chamou um bombeiro hidráulico. O bombeiro hidráulico veio, viu o que tava de errado e apresentou a solução. Só que fora a bagunça que o pedreiro fez, a Caesb tinha diminuído a pressão da água, então a caixa não tava enchendo.

Como eu disse anteriormente, minha gestação toda foi um grande exercício de entrega e durante o trabalho de parto não poderia ser diferente. Não sei por que eu tinha colocado na cabeça que a Aurora nasceria no dia 1° de dezembro, acho que eu queria que ela nascesse numa data “bonita”, mas ela escolheu o dia 24. Eu já tava com uma rotina prontinha na cabeça de coisas que iria fazer quando entrasse em trabalho de parto: ia tomar um banho quente pra relaxar, sair pra fazer uma caminhada e tomar um sol, ligar minha playlist (que já tava montando desde antes de engravidar), acender minhas velas, dançar... Só que não tinha água, não poderia tomar meu banho relaxante... E lá fora estava chovendo, não poderia fazer minha caminhada, nem tomar um solzinho... Não quis ouvir música e o cheiro das velas estava me enjoando. Eu fiquei alternando entre deitada no sofá, sentada na bola de pilates e fazendo uns rebolados em pé, sempre respirando, soltando o quadril e tentando me acalmar durante as contrações. Resolvi que focaria no que tinha disponível e não no que eu não tinha. Foi tudo ao contrário do que imaginei, mas se era pra ser assim, assim seria.

Às 13h30 resolvemos marcar pela primeira vez o intervalo das contrações. Elas estavam vindo em média a cada 5 minutos e durando uma média de 40 segundos. Estavam intensas, mas não estavam doloridas. Tudo que eu mais queria era tomar um banho quente. Com um último fio de esperança, tentei ligar o chuveiro e, como um milagre, ele funcionou normalmente! Chamei o Pedro como uma criança feliz: “olha onde eu tô!”. E lá fiquei um tempinho. Consegui relaxar. As contrações foram aumentando a duração e diminuindo o intervalo, mas não sentia dor, só uma pressão forte. Às 14h avisamos a equipe e elas começaram o movimento para virem pra minha casa.


Às 15h resolvi voltar pro chuveiro e as contrações estavam tão frequentes que eu já não sabia mais quando começavam e quando terminavam. O Pedro tava anotando no aplicativo e elas estavam vindo a cada 2 minutos. Resolvi sair do chuveiro e voltei pra bola de pilates. Às 15h30, a Gláucia e a Mari chegaram juntas. As contrações deram uma espaçada. Eu estava tranquila e conseguia até conversar entre uma contração e outra.



Antes, quando eu me imaginava em trabalho de parto, eu imaginava que não iria querer o Pedro por perto, achava que ele poderia me deixar nervosa ou ansiosa. Me imaginava grudada com a doula, pedindo massagem pra ela o tempo todo. Só que mais uma vez foi tudo diferente do que eu tinha imaginado. Desde que as contrações começaram a apertar, eu só queria o Pedro. Com ele por perto, as contrações eram bem suportáveis. Eu me agarrava no braço dele, enfiava minha cara na barriga dele, abraçava ele, estávamos super conectados, numa sintonia muito gostosa, e ele me transmitiu muito foco e força. Logo no comecinho, ele precisou sair por 15 minutos pra comprar um lanche pra equipe e pra mim pareceu uma eternidade. Foram as piores contrações que senti em todo trabalho de parto. Quando ele voltou, eu não deixei mais ele sair do meu lado nem por um segundo. Ele foi a melhor anestesia que eu poderia receber! Eu não dei espaço pra Gláucia, minha doula, se aproximar, mas a linda presença dela observando tudo de longe e a certeza de que ela estaria lá caso eu precisasse me deixavam tranquila e confiante.


Fui pra cima da minha cama e lá fiquei a maior parte do tempo, só eu e o Pedro. Fiz uma pilha de travesseiros e me apoiava nela entre uma contração e outra pra descansar, mas durante a contração só consegui ficar na vertical abraçada no Pedro. Por volta das 16h, a Lissandra chegou, aí caiu a ficha de que eu estava mesmo em trabalho de parto e que logo logo eu estaria com a Aurora no colo. Comecei a chorar, um misto de amor, alegria, medo, ansiedade... Mas estava bem. A Lissandra perguntou se poderia fazer um toque, mas eu não quis. Sempre morri de medo do toque, achava que doía. E também tava com medo de não estar bem dilatada e acabar ficando nervosa. Fui respeitada, ela não insistiu e eu fiquei tranquila.


Depois de um tempo ela voltou e explicou que era importante fazer um toque pra usar como ponto de partida pra saber se o trabalho de parto estava evoluindo e me deixou à vontade pra fazer quando quisesse. Às 18h pedi pro Pedro chamar a Lissandra pra gente fazer o toque. Não doeu nada! Foi mega tranquilo, não senti nenhum incômodo. E o melhor: já estava com 8cm! Que alívio. E mesmo com 8cm, eu ainda não estava sentindo dor nas contrações. Sentia uma pressão forte e uma sensação boa depois de cada contração, era uma coisa muito estranha, um misto de incômodo com prazer, não sei descrever, depois de cada contração eu falava “que delícia” hehehe.


Estava tudo fluindo bem! Eu continuava tranquila e entregue, continuava relaxando durante as contrações, vocalizando e respirando. Resolvi voltar pro chuveiro e lá saiu o tampão. Que emoção! Peguei aquela gosma, fiquei olhando, mexendo nela, pedi pra chamar a fotógrafa pra registrar, foi muito legal! As contrações já estavam bem fortes neste momento, em alguma delas eu perdia o controle, não conseguia manter a respiração e ficava tensa. Comecei a achar que tava demorando muito e que tinha alguma coisa errada... Lembrei da banheira. Pedi pro Pedro falar com a Lissandra pra começarem o movimento de enchê-la. Passou um tempinho e o Pedro voltou dizendo que não seria possível encher a banheira porque a água tava sem pressão, tava saindo só um filetinho e não daria tempo de encher. Nessa hora eu me desestabilizei. Lembrei da Lissandra numa das consultas me falando que quando eu estivesse com muita dor, implorando pra ir pro hospital pra receber anestesia ou implorando por uma cesárea, a banheira seria minha anestesia. Eu não estava sentindo muita dor, até aqui estava bem tolerável, em momento nenhum me passou pela cabeça ir pro hospital, muito menos ir pra uma cesárea, eu estava focada. Mas sem a banheira, comecei a ficar com medo. Pensei: “E se eu começar a sentir tanta dor e não aguentar? Vou acabar tendo que ir pro hospital...”


A partir de então comecei a forçar. Eu ainda não estava sentindo os puxos, mas a cada contração que vinha eu fazia bastante força, tentando acelerar, tentando fazer a Aurora sair logo e acabar logo com aquilo. Eu não queria ir pro hospital. Depois de algumas contrações fortes, de repente veio aquela tão famosa vontade de fazer cocô. Eu sabia que essa sensação significa que o bebê já perto de nascer, mas pensei: “eu conheço meu corpo, é claro que é vontade de fazer cocô mesmo”, então sentei no vaso. Nessa hora a Letícia entrou pra ouvir o coração da Aurora e falou: “ué, ela já tá no canal, você não tá sentindo ela aí? Coloca a mão”. Eu coloquei a mão e senti algo liso, parecia um plástico, era a bolsa que ainda não tinha se rompido. Meu Deus, que emoção eu senti nesse momento! Minha filha já tava chegando! Era 21h e neste momento senti o primeiro puxo. Que sensação doida. Uma força que vem de dentro, que não dá pra controlar, o corpo sozinho fazendo força, tentando colocar o bebê pra fora. A gente perde o controle do nosso próprio corpo. E assim que a gente aprende que parir é se entregar, é literalmente perder o controle. E a gente aprende que não dá pra ter controle de tudo na vida. E a gente aprende que tem que se entregar de verdade e deixar fluir da forma que tem que ser, que lutar contra o fluxo não adianta e é pior. São muitos aprendizados ali, em alguns segundos.


Eu pedi a banqueta de parto. Nunca me imaginei parindo na banqueta, achava sem graça. Nunca me interessei por ela. Mas acabou sendo. Era assim que era pra ser. Aceitei. A Gláucia se sentou atrás de mim e ficou me apoiando, depois de cada contração eu me jogava pra trás e deitava no colo dela, relaxava, conseguia descansar, que delícia de colinho! Eu já tava em outro mundo, não enxergava mais ninguém. Ouvi alguém dizendo que o pior já tinha passado, que a partir de agora seria mais fácil. Eu já tinha ouvido esse papo durante a gestação: que o período de dilatação é o mais dolorido e o expulsivo é tranquilo, só dá aquela queimadinha na hora do bebê passar e pronto. Mas comigo foi o contrário. Eu não senti dores insuportáveis durante as contrações, eram pressões chatinhas, mais pro final estavam incomodando bastante, mas eram bem tranquilas perto do que eu estava esperando. Mas quando começou o expulsivo, eu me transformei.


Eu, que sempre fui quietinha, que não gosto nem de falar alto, me transformei numa onça. Saía de dentro de mim um urro que era incontrolável. Bem, na verdade, essa foi a percepção que eu tive de mim mesma, as meninas disseram que eu quase não gritei, vai saber, né?!. Nessa hora eu senti muita dor. Uma sensação de rasgo. Eu sentia o puxo, mas parava de fazer força no meio porque tava com medo da dor. Tava com medo do que estava por vir. Olhei pra Lissandra e falei que não conseguia mais, que já tava sem força, ela falou que eu tinha força, que ia conseguir, que na hora certa a força iria surgir. Aí eu pensei: “A Aurora tá aqui dentro, ela já tá quase saindo, não tem outro jeito, ela vai ter que sair e eu vou ter que aguentar.” Então respirei fundo e na próxima contração fiz toda força que tinha, gritando como nunca imaginei. Depois de algumas contrações a bolsa estourou. Líquido clarinho. Agradeci. Nessa hora o Pedro perguntou se poderia filmar, eu falei pra ele pedir pra Sophia, minha irmã que estava acompanhando tudo.

(Pausa para algumas explicações: 1ª – na hora do expulsivo, o Pedro se posicionou na minha frente. Ele queria muito ser o primeiro a pegar a Aurora e queria ser a primeira pessoa que a Aurora visse na vida, tudo bem, aceitei. 2ª – eu não queria que ninguém participasse do parto, queria só nossa equipe, que fosse um momento meu e do Pedro. Só que no dia anterior minha mãe tinha vindo na minha casa pra decorar um móvel do quarto da Aurora, como ela não conseguiu terminar, ficou de voltar no dia seguinte. Ela e minha irmã Sophia iriam ao cabeleireiro, que fica praticamente do lado da minha casa, e depois viriam pra minha casa. Como eu entrei em trabalho de parto,mandei uma mensagem avisando que estava tendo contrações, dizendo que tinha virado bicho do mato e não queria ver ninguém, que não era pra elas virem, que eu queria ficar sozinha. Não adiantou nada, elas vieram hehehe. Na hora fiquei chateada, me senti desrespeitada. Minha mãe disse que não poderia perder este momento especial. Entendi o lado dela, eu faria o mesmo se fosse minha filha. Acabou que me fez bem a presença delas. De certa forma me senti mais segura sabendo que minha mãe estava ali. E elas ficaram na sala o tempo todo quietinhas, só foram pro banheiro na hora do expulsivo, porque eu liberei. A Sophia filmou a hora que Aurora tava saindo, eu amei ter essa recordação porque não lembraria direito desse momento. E minha mãe ainda fez um caldinho delicioso que tomei depois do parto! Acho que foi muito especial pra elas também participarem da chegada da neta e da sobrinha).


Voltando... Depois que a bolsa estourou, continuei fazendo toda força que conseguia. Tava doendo muito e eu só queria que acabasse logo. Eu ficava falando pra mim mesma: “relaxa, relaxa” e ficava recitando os mantras: “vai passar, vai passar, vai passar!”, “já tá acabando, já tá acabando, já tá acabando!”. Alguém me falou pra eu colocar a mão pra sentir a cabecinha dela, eu coloquei, mas não consegui sentir. Veio outra contração, aí eu senti. Meu Deus! Outra contração, um grito veio de dentro como se liberasse tudo que tava preso e a cabeça saiu toda. Eu perguntei se ela nasceu, alguém falou que era só a cabeça, que na próxima contração ela sairia. Neste momento o Pedro já tava soluçando de tanto chorar. Veio a última contração bem fraquinha e às 21h48 o corpinho dela saiu. Direto pras mãos do Pedro. Que alívio! Aí a noção de tempo foi muito interessante. Na minha cabeça foi assim: ela saiu e eu pensei: “graças a Deus, acabou! Eu consegui!”, e fiquei parada por um tempo, meio que fora do ar por uns 3 minutos. De repente me deu um estalo: “caraca, minha filha nasceu. A Aurora nasceu”. Aí eu fui e peguei ela da mão do Pedro. Mas na realidade foi assim: ela saiu, ficou 3 segundos com o Pedro e eu roubei dele hehehehe.


Que emoção! Aquele corpinho minúsculo, todo molinho, quentinho, era minha filha tão amada! “Você chegou, filha! Bem-vinda, meu amor! Pronto, a gente conseguiu! Tá tudo bem! A mamãe ta aqui!”, foram as primeiras palavras que falei pra ela! Ela demorou um tempinho pra chorar, eu fiquei preocupada, mas em seguida ela engatou num choro e não parou mais. (APGAR 8/10) Fomos pra cama. Era choro de frio. Ela só parou de chorar depois que colocamos bastante roupinha nela. A placenta saiu rapidinho. Eu sentia muita ardência ainda porque tive uma pequena laceração, levei 3 pontinhos. Depois coloquei a Aurora pra mamar, ela relutou um pouco, não quis. Deixei ela com o Pedro enquanto a Lissandra avaliava ela e fui tomar um banho, que delícia de banho! Na volta tomei o caldinho da mamãe e coloquei a Aurora no peito, ela pegou direitinho, mamou bastante! Por volta de meia noite todo mundo foi embora, ficamos só nós 3! Quanto amor! Fomos dormir na nossa cama. A Aurora passou a primeira noite em cima de mim, grudada no peito. Foi maravilhoso!


Apesar de tudo ter sido diferente do que tinha imaginado, a Aurora chegou na hora dela, do jeitinho dela. No dia seguinte eu acordei com muita dor no cóccix, fiquei andando toda torta por 3 dias. Os pontinhos que levei por conta da laceração ficaram 7 dias me enchendo o saco. Eu falava que nunca mais ia querer ter um parto normal, que era balela esse papo de que depois que o bebê nasce toda dor some. Enquanto os pontos ainda incomodavam, eu reclamava do parto. Eu nunca me arrependi, mas ficava remoendo e pensando o que eu tinha feito de errado pra ter ficado com essa dor no cóccix e pra ter tido laceração. Mas depois de uma semana tudo cicatrizou e eu estava 100% como se nada tivesse acontecido. Aceitei e fiz as pazes com meu parto. Ele foi exatamente do jeito que tinha que ser, pra eu aprender o que tinha que ser aprendido. E foi maravilhoso. Me trouxe o maior amor da minha vida. Eu só consigo lembrar e agradecer à Deus e a Mãe Natureza por ser tão perfeita! E, sim! Já to sonhando com um próximo parto normal!


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