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Relato de Parto

  • Marina Gontijo
  • 21 de mar. de 2016
  • 22 min de leitura

Registros: Mari Cardoso Fotografia

A GESTAÇÃO


Acho que para fazer sentido algumas coisas que senti e pensei durante o parto é importe explicar um pouco de como foi a gestação do Augusto. Engravidei um pouco antes do que esperava, minha filha estava com um ano e 1 mês e tinha sido meu primeiro ciclo menstrual desde que havia engravidado dela. Percebi que a segunda menstruação não veio na data provável (o que por si só era até esperado, já que é comum ciclos irregulares para lactantes) e estava um pouco dolorido amamentar (o que já não acontecia fazia tempo e não era esperado que acontecesse mais). Desconfiei, falei com o marido e ponderei se deveria fazer um teste de farmácia ou fazer logo um de sangue (tinha um pedido que a obstetra havia deixado comigo, sem data, just-in-case, mas não queria gastar à toa). Ele estava tão certo de que estaria grávida que quis que eu fizesse logo o de sangue. E não é que ele estava certo? Estava grávida de 1 a 2 semanas, o teste de farmácia talvez nem tivesse pegado.

Antes mesmo da primeira consulta de pré-natal, que seria com a mesma obstetra que havia me acompanhado na gestação anterior, queria conhecer o trabalho de equipes de enfermeiras obstétricas (EO) que faziam parto domiciliar (PD). Isso porque, dessa vez, estava me sentindo segura com PD e não achava mais imprescindível a presença da obstetra. Acabei indo apenas em uma roda temática de equipes de EO, e até gostei muito. Porém, por comodidade (porque mexer em time que está ganhando?), acabei decidindo por seguir com a mesma equipe da gestação e parto da minha filha. Segui o pré-natal normalmente só com a obstetra. Entretanto, vinha sentindo que estava numa fase diferente da minha vida, a maternidade havia me deixado uma pessoa mais emotiva e a conexão com a obstetra já não era a mesma. Mas segui com ela mesmo assim. Até ficar sabendo do rompimento da parceria com o restante da equipe, ela estava sem backup e havia trocado a enfermeira que dava suporte durante o parto por um pediatra. Comecei a ficar receosa de não conseguir o PD por choque de agenda, não era incomum saber de mais de um parto no dia com ela e no perfil dela na internet só via relatos de partos hospitalares nos últimos tempos. Somado ao fato de estar buscando algo mais aconchegante para esse pré-natal, decidi que iria trocar para uma equipe de EO.


Aquela equipe que havia organizado a roda temática à qual fui no início da gestação era composta por três enfermeiras (as demais equipes da cidade tinham apenas duas) e era relativamente nova e pouco conhecida. Isso me fez nem procurar outra equipe, menos chance de choque de agenda. Marcamos uma conversa com elas, para garantir que havia aquela conexão que estava procurando. A conversa aconteceu com 16 semanas de gestação e confirmamos que eram elas mesmo que queríamos com a gente. Foi preciso trocar de obstetra, pois a que estava me acompanhando não se dispunha mais a ser backup em caso de PD com EO. A nova obstetra se mostrou bastante aberta ao PD com EO e nos deu bastante liberdade para seguir o pré-natal com as duas equipes. Foi o que fizemos, alternamos as consultas entre obstetra e parteiras (apesar de EO, elas preferiam se denominar assim).



DIABETES GESTACIONAL? EU?

Tudo ia bem, mas comecei a ganhar peso muito rápido. Já não tinha a mesma dedicação e controle que tinha tido na primeira gestação e acabei relaxando na alimentação também (mas não se enganem, ainda comia muito saudável perto da média). Com o cansaço de manter a amamentação da minha filha e minha imunidade baixa, também fiquei doente várias vezes. Por volta das vinte e poucas semanas acabei precisando tomar mais de vinte dias de antibiótico. Com 24 semanas fiz uma cuva de glicemia simplificada (dosa apenas jejum e glicemia de 1h com sobrecarga menor de glicose) e tive alteração. Fiquei um pouco preocupada, a obstetra estava viajando e não me retornava as mensagens, falei com a minha parteira e resolvemos fazer outro exame depois de uma semana, pois os medicamentos poderiam estar afetando o resultado. Na segunda curva (dessa vez curva tradicional), duas semanas depois, tudo normal. Fiquei aliviada e segui a vida, agora com uma alimentação mais regrada (até fui em uma nutricionista, mesmo sendo formada em nutrição) para não ganhar muito peso, mas sem grande preocupação com restrição de alimentos específicos.

Com 29 semanas fiz uma ecografia opcional, a obstetra tinha deixado o pedido caso eu quisesse fazer, e o índice de líquido amniótico estava aumentado (o percentil da circunferência abdominal também estava aumentado, mas não sabia que isso era um problema na hora e não dei bola). Novamente fiquei preocupada, mas como tinha feito a segunda curva glicêmica normal, tinha certeza dessa vez que era algum outro problema, afinal eu estava certa de que não tinha diabetes gestacional. Três dias depois, saí em negação da consulta com a obstetra. Ele havia me diagnosticado com diabetes gestacional, disse que não deveria nem ter feito a segunda curva porque só servia pra ter alguma coisa pra me agarrar e que eu provavelmente estava fazendo algo errado na alimentação sim, que deveria cortar os carboidratos da minha dieta. Fiquei desnorteada na consulta, sem reação, só pensava em sair correndo dali e parar de ser atacada por quem deveria cuidar de mim. Queria trocar de obstetra, achava que ela estava completamente equivocada, tinha ficado chateada com a forma que ela me tratou e não concordava com a postura dela.

Entretanto, resolvi que iria provar pra ela que não era diabetes, que não tinha nada a ver com minha alimentação, que meu filho só era gordinho e pronto e o líquido às vezes fica alto e não quer dizer nada (às vezes baixa esse espírito adolescente de vou-fazer-e-vou-esfregar-na-cara-que-ela-está-errada). Então, comprei o glicosímetro como ela mandou e comecei a medir minhas glicemias antes e depois das refeições (media mais do que ela havia pedido, só pra ter certeza de que não tinha dado nenhuma alteração mesmo) e excluí completamente os carboidratos da minha alimentação. Não comia nem frutas direito, só as autorizadas em dieta lowcarb (inclusive serviu pra eu conhecer de verdade o mundo das dietas lowcarb). Na minha cabeça, nunca ia dar nenhuma alteração na glicemia, porque eu não tinha diabetes, e não ia dar diferença nenhuma na ecografia que ela pediu pra fazer em 15 dias, porque era por outro motivo que meu bebê estava gordinho e o líquido aumentado (e isso me preocupava muito, então comecei a fazer acupuntura com minha doula também).

Depois de uma semana medindo a glicemia, e tendo valores perfeitos, estava ainda mais certa de que não tinha nada errado e já estava cansando de dieta radical, então resolvi comer inhame. Aí veio o susto, a glicemia subiu mesmo, acima do valor estipulado pela obstetra. Fiquei um pouco em choque, um pouco decepcionada. A obstetra estava certa, eu tinha diabetes gestacional, finalmente caiu a ficha e aceitei a condição em que me encontrava. Isso me ajudou a conformar e deu forças pra seguir a dieta restritiva. Foram dias arrastados, com medo de não ter resultados com a dieta, de ter que entrar com insulina, de ter culpa do meu filho ter alguma doença em consequência dessa diabetes gestacional, de não poder fazer parto domiciliar. Estava extremamente chateada, completamente sem ânimo, só tinha vontade de chorar. Quis pedir um atestado para ficar em casa, mas não queria conversa com a obstetra (ainda estava chateada com a forma ríspida que tinha sido a última consulta), então segui indo ao trabalho (porque trabalhando mesmo eu não estava, não conseguia foco) me sentindo em um grau de depressão. Falava com a parteira e com a doula por mensagem e elas tentavam me tranquilizar de que daria tudo certo. O marido também estava confiante de que daria certo (e passou a dar muito mais apoio depois do episódio do inhame também, antes ele achava que eu estava sendo exagerada no radicalismo por causa de uma birra e estava preocupado).

Finalmente chegou o dia da nova ecografia e, que alívio, o líquido havia normalizado e o percentil da circunferência abdominal havia baixado também. Fiquei num misto de alívio e orgulho (ufa, deu certo!). No mesmo dia tive consulta com a obstetra. Ela confessou que ficou espantada com o resultado, pois havia sentido minha resistência na consulta anterior e achava que precisaria entrar com insulina. Foi uma consulta ótima, ela me pareceu outra pessoa, desconstruí minha muralha e contei que estava esgotada emocionalmente, como tinham sido 15 dias difíceis, que tive dificuldade em aceitar o diagnóstico mesmo. Ela se mostrou muito mais empática dessa vez e falou que eu deveria ter pedido o atestado, que deveria pedir sempre que precisasse. Então, segui daí em diante com dieta altamente restritiva. Tive diversos momentos em que achei estar em depressão. Muitos momentos de saco cheio. Todo dia era uma tristeza não poder comer o que eu queria, tinha vontade de chorar o tempo todo, estava preocupada o tempo todo com a possibilidade de precisar ir parir no hospital, de precisar entrar com insulina, de meu bebê ter alguma complicação. Os dias se arrastavam. Não tinha mais disposição para minha filha, e isso me entristecia, não tinha mais disposição para nada. As únicas coisas que me faziam persistir eram a vontade de garantir a saúde do bebê e a certeza de que ele deveria nascer em casa para a irmã poder acompanhar de perto.




AGORA VAI! NÃO FOI...

Uma das minhas grandes preocupações durante toda a gestação era entrar em trabalho de parto e não perceber a tempo da equipe se mobilizar. Meu primeiro parto foi relativamente rápido, com contrações irregulares e quase aconteceu da obstetra não chegar a tempo quando ficou claro pra doula que era um TP ativo (no esquema da equipe a doula era quem avisava à obstetra o momento de aparecer). Não tive perda de tampão ou sangue, a bolsa só estourou durante o TP (e foi tão pouco líquido que ficamos na dúvida se tinha mesmo estourado), praticamente não soube o que eram pródromos (comecei a sentir alguma coisa no início da tarde de um dia e minha filha nasceu ao meio dia do dia seguinte). Sempre ouvi que segundo parto normal evoluía mais rápido. Então vivia conversando isso com a doula, com as parteiras e com meu marido. Cheguei a perguntar pro meu marido se ele conseguiria se virar sozinho se precisasse. Até pra minha prima (que estava escalada pra estar presente no parto e é enfermeira) eu perguntei se dava conta de fazer o que deveria ser feito se a equipe não conseguisse chegar a tempo. Fiz o maior terrorismo até com a fotógrafa, coitada.

Acho que por conta dessa preocupação toda com sinais de TP acabei ficando um pouco ansiosa e passei o último trimestre todo tendo contrações de treinamento. Elas eram bem chatas e um pouco desconfortáveis, mas dava pra levar. Perto das 35 semanas comecei a achar que as contrações já estavam incômodas, já eram bem desconfortáveis e vinham mais ou menos no mesmo horário, sempre no fim da tarde, mas passavam durante a noite. Fiquei preocupada de estar entrando em trabalho de parto prematuro, mas a parteira avaliou a responsividade uterina em nossa consulta e me tranquilizou. Ele estava muito bem encaixado, por isso o incômodo havia aumentado, mas o útero não estava reativo ainda. Talvez fossem pródromos, mas poderiam durar semanas ainda. E foi o que aconteceu. Segui tendo esses desconfortos diários que aumentavam de frequência e me faziam ter que parar o que estava fazendo para esperar passar.

Então, além da dieta horrorosa, agora estava em pródromos eternos e já não via a hora do Augusto nascer! Mas o danado nada. A barriga lá em baixo, atrapalhando sentar, subir escadas, agachar… E o danado nada. Com 37 semanas começou a vir uma leve cólica junto das contrações. Me animei um pouco. Já tinha autorização da obstetra para o parto em casa, já tinha tempo de gestação suficiente e já tinha muita vontade de comer uma banana (sério, sonhava com bananas). Mas minha filha estava com uma virose, diarreia, vômitos… O pai pegou também… Estava com as cólicas, tive diarreia, fiquei na maior dúvida: “será que é a virose ou será o TP começando?”. Vomitei… Era a virose, infelizmente. Tomei buscopan e pimba, as cólicas aliviaram.

Na semana seguinte, já recuperada da virose, voltei a sentir cólicas junto das contrações, o intestino começou a soltar (como aconteceu no dia anterior ao parto da minha filha) e durante as contrações sentia uma pequena vontade de fazer cocô (mas estava era cheia de gases). Era bastante incômodo, mas não insuportável. Banho quente já não dava diferença nas cólicas. Me animei um pouco, mas ainda não muito porque as contrações não pareciam ter um ritmo certo, eram aleatórias. Com buscopan e uma noite de sono, passavam. E seguiu assim a semana toda. Conversei com a doula sobre isso, que achava que estava em pródromos. Ela me disse que tem visto pródromos bem longos em segundo filho, fiquei decepcionada com a perspectiva e um pouco achando graça da forma como a vida é, na gestação da minha filha me preparei muito para passar pelos pródromos sem dar um monte de alarme falso e não senti nada, nessa estava morrendo de medo de entrar em TP sem perceber e estava lá, há semanas com contrações e com perspectiva de mais por vir. Com 39 semanas tive uns dois dias de descanso sem tanto incômodo, mas depois comecei a sentir as contrações durante a noite inclusive, mas nada que animasse muito. Já não aguentava dieta (de verdade, estava quase desistindo), já não dormia direito, já não tinha paciência pra nada.




O GRANDE DIA “P”

No início da madrugada do dia em que completei as 40 semanas comecei a sentir cólicas fortes, com alguma frequência mais regular, que o buscopan não resolveu, e a barriga endurecia durante as cólicas. No meio da madrugada, mandei mensagem pra parteira avisando e comecei a medir as cólicas. Dormi bem mal, marcava as cólicas no meio tempo. Ao amanhecer as cólicas eram fortes, mas não insuportáveis, mais ou menos ritmadas, mas com duração e intervalos longos ainda. As contrações que vinham junto ainda me deixavam com o pé atrás, não estavam puxando tanto, mas a barriga endurecia bastante. Tomei banho quente e não deu diferença. A doula sugeriu que eu tentasse descansar, pois ainda poderia demorar muito enquanto o intervalo não chegasse perto de 5 minutos. Mas, conversando com a minha parteira principal, apesar de estarmos achando que ainda eram pródromos (eu, ela e a doula né, porque o marido e a fotógrafa já estavam se preparando pro parto confiantes), decidimos pela avaliação das parteiras pra ter uma melhor clareza do que estava acontecendo.

Enquanto esperava conversava por mensagem com a equipe, mas já tinha desanimado, as contrações vinham e não aumentavam o ritmo. A fotógrafa estava super animada, confiante de que estava chegando a hora sim, dizia que eu devia aproveitar pra dar uma atenção pra minha filha e relaxar.



Enquanto a doula estava confiante era do contrário, tentava reduzir um pouco minhas expectativas, falando sobre como poderia ter dilatação na avaliação e não entrar em TP tão cedo, que provavelmente ainda demoraria mais alguns dias, que era preciso exercitar a paciência e a tranquilidade, mesmo com o cansaço e a ansiedade de acabar a dieta. E eu ali, meio sem saber o que pensar, o que esperar. Na verdade, tentando não esperar nada, mas torcendo pra fotógrafa estar certa, naquela briga eterna entre o racional (pode demorar ainda, não crie expectativas) e o irracional (tem que ser hoje, não aguento mais, preciso parir logo esse menino).

Então, por volta de 10h, uma das parteiras veio em casa para avaliar. Já vinha tentando fazer há dias eu mesma um toque, pra saber se estava tendo alguma dilatação (essa sou eu, querendo fazer tudo sozinha e ansiosa). Mas nunca entendi nada do que sentia com os dedos, pra mim não tinha nenhuma dilatação nunca. Então pedi pra ela fazer um pra eu entender como era e pra saber se realmente estava entendendo certo quando tentava sozinha. Foi um pouco desconfortável, especialmente quando tive uma contração durante o exame. Descobri que meus dedos não estavam chegando ao colo do útero, por isso não achava nada mesmo. Mas a notícia era bem mais ou menos de qualquer forma, estava com 3-4 cm de dilatação e colo 50% apagado. Pelo menos não estava no zero, como pensava. Mas o Augusto não estava tão baixo quanto pensava e a contração que teve durante o toque não fez ele descer. Ou seja, poderia tanto progredir como não acontecer nada, tudo dependia de ter contrações mais intensas/efetivas. Fiquei tão desanimada e falei do meu cansaço, de como estava por um fio para largar a dieta e de como estava muito chateada de não conseguir dar atenção nenhuma a minha filha (não tinha ânimo, não tinha paciência, não tinha disposição). Perguntei se não podia fazer nada pra dar uma ajuda. Daí ela sugeriu tentar um descolamento de membranas, se eu quisesse, já que estava tão ansiosa. Topei na hora! Foi bem dolorido e saiu um tiquinho de sangue. A parteira foi embora, já às 11h, me deixando instruções de avisar em caso de mudança nos padrões.

Fiquei em casa na maior expectativa. Por volta de 13h30 estava com cólicas fortes, mas não muito diferentes das da noite, talvez levemente mais doloridas, que vinham sempre que fazia algum movimento. E o intestino tinha começado a soltar de novo. Resolvi dar uma deitada e ficar quieta, pra ver se elas estavam tendo ritmo sozinhas ou se era reação aos meus movimentos. Ia tentar dormir um pouco, já que a noite anterior tinha sido ruim e a próxima não parecia que iria ser mais fácil. Não tive muito sucesso, precisava ir ao banheiro o tempo todo fazer cocô. Perto de 17h as cólicas começaram a aumentar um pouco de intensidade, mas sabia que ainda tinha margem pra ficarem mais fortes, o intervalo ainda estava muito grande entre elas, mas já estava começando a ter mais dor pélvica e lombar. Não tive coragem de tentar marcar as contrações, estava com medo de ficar muito frustrada. Cheguei à conclusão de que meu intestino já estava todo esvaziado, pois não saia mais nada quando tinha vontade de fazer cocô.

Fui conversando com a equipe toda (marido, parteira, doula e fotógrafa) ao longo do dia, contando como estava evoluindo. Observava por um espelho, fascinada, a movimentação das contrações. Sempre achei lindo como a barriga fica dura e redondinha na hora da contração. Até tirei umas fotos e mandei pras amigas verem como é fantástica a natureza (como sabiam que estava tendo muitas contrações há dias quis mostrar pra elas). Minha filha e meu marido chegaram em casa às 19h40, como de costume. Jantamos e tentamos seguir a rotina normal da noite. Mas eu não conseguia fazer os cuidados dela e meu marido que ficou a cargo. Enquanto isso, resolvi marcar as contrações para ter uma ideia do intervalo. Elas estavam durando de 1 a 2 minutos e tinham intervalos irregulares de até 15 minutos entre elas. Lá pras 21h as contrações começaram a ficar mais difíceis, já precisava parar e me concentrar na hora em que vinham e eram mais doloridas. Falei com a parteira e ela resolveu vir me ver.




A doula estranhou, não estava acostumada com a conduta dessa equipe, era a primeira vez que doulava uma gestante delas. Achou que eu tinha pedido para a parteira vir, pois não achava que era o caso de reavaliar. Mas eu gostei da iniciativa da parteira, me tranquilizaria bastante.

Enquanto esperava, entrei no chuveiro quente para tentar relaxar e meu marido ficou tentando fazer a nossa filha dormir, mas parecia que ela estava sentindo que tinha algo acontecendo e estava inquieta. Por volta de 22h a minha parteira chegou, por via das dúvidas, já veio com todo o equipamento e com a segunda parteira que iria auxiliar durante o parto. Conversamos bastante enquanto elas marcavam um pouco as contrações. Resolvemos fazer um toque para ver se havia tido alguma mudança na dilatação e na altura do bebê. Dessa vez o toque doeu muito! E não foi muito animador. Parecia que não tinha dado muita diferença, a dilatação ainda era de 3-4cm, colo 50% apagado e bebê alto. Escutamos os batimentos do bebê e estavam ótimos. Elas ficaram com a gente por cerca de uma hora para acompanhar como estava a evolução. Estava tendo contrações cada vez mais doloridas, porém com intervalos de 10-15 minutos ainda.



Nesse tempo a minha filha ficou circulando, vinha com brinquedos, queria ouvir o coração do irmão, numa agitação só. Meu marido tentou colocar ela pra dormir algumas vezes, mas ela não queria, queria ficar com as parteiras. Elas então resolveram nos deixar à vontade para decidir como prosseguir. Achei que estava correndo tudo bem e não tinha expectativa de que fosse evoluir para um TP ativo tão cedo, então dispensei elas para ver se conseguíamos fazer a minha filha dormir e nós também. Elas foram embora, mas pediram que avisasse em caso de qualquer alteração no ritmo ou intensidade das contrações. Já deixaram todo equipamento para agilizar quando voltassem. Avisei a doula e a fotógrafa que elas tinham saído, mas que haviam já deixado tudo na expectativa de engrenar em breve. Resolvi dar um aviso para a minha mãe e minha sogra, para não desligarem os telefones durante a noite.

Fomos deitar, finalmente conseguimos fazer minha filha dormir. Mas eu não conseguia dormir. As contrações incomodavam e não pegava no sono, apesar de estar calma, estava um pouco ansiosa e as contrações já não me ajudavam muito a ficar tranquila. Entre meia-noite e uma da manhã fui marcando as contrações, mas não havia alteração nenhuma no ritmo então parei de marcar. Por volta das 3h30 a intensidade das contrações havia aumentado, então voltei a marcar, intervalos um pouco menores mas acima de 5 minutos ainda. Esperei um pouco para ter certeza e meu marido acordou com a minha movimentação, já eram quinze pras 4h e resolvemos que era hora de ligar para a equipe. Liguei primeiro para a parteira, que disse prontamente estar à caminho. Em seguida liguei para a doula, que não atendeu ao telefone, então mandei mensagem e segui ligando para a fotógrafa e minha mãe. Meu marido ligou para minha sogra, avisando que a equipe estava à caminho.

Uns minutos depois a doula respondeu à mensagem perguntando se havia ligado. Estava sem paciência e concentração para responder mensagens, então passei o celular para o marido que foi lendo para mim e escrevendo minhas respostas. Ela perguntou há quanto tempo havia aumentado a intensidade, respondi que já havia uma hora e falei que a parteira já estava à caminho. Falei que a vontade de fazer cocô estava maior e as dores estavam bem fortes. Ela perguntou onde eram as dores, respondi que eram na lombar, pelve e um pouco no quadril. Ela perguntou se queria que ela fosse ou se preferia que esperasse a parteira chegar. Pedi que viesse, pois a parteira não demoraria a chegar. Ela insistiu em saber das dores, se nessa uma hora já estavam tão fortes quanto no parto da minha filha. Eu já estava nervosa com os questionamentos, respondi que sim e emendei dizendo que estava muito dolorido (afinal, era o papel dela vir ajudar com essa dor, né?). Quando ela finalmente concordou em vir, já tinha se passado meia hora que havia começado a chamar a equipe. Fiquei irritada com a doula, achando que ela estava se fazendo de muito difícil pra vir, mas tentei tirar isso da minha cabeça para não atrapalhar o TP.


Enquanto esperávamos a equipe chegar, decidimos não perder tempo e já começamos a inflar a piscina (no parto da nossa filha quase não deu tempo de encher a piscina para ela nascer, foi preciso que meu marido entrasse junto para dar volume na água, o que acabou sendo ótimo no final das contas). A parteira principal foi a primeira a chegar, dessa vez sem a segunda parteira, que viria em seguida. Não sei bem que hora que ela chegou, mas lembro de ouvir pássaros cantando e olhar para o relógio e comentar que era muito cedo para pássaros estarem cantando. A fotógrafa foi a segunda a chegar, um pouco antes de 4h30 (segundo o horário das fotos agora, pois já não estava mais acompanhando tempo de nada). Ela perguntou da doula e eu respondi que apesar de ter oferecido resistência, já estava a caminho. A doula e a segunda parteira chegaram praticamente juntas, aproximadamente às 4h50.

Antes da doula chegar, meu marido estava fazendo as massagens lombares para aliviar a dor das contrações enquanto eu tentava rebolar na bola de pilates. Já estava achando que nem faria diferença a doula vir, mas quando ela assumiu o posto percebi que uma pessoa com prática (e equipamentos) faz diferença sim. A doula ofereceu a bolsa de calor, que aceitei e ajudou muito a aliviar a dor pélvica enquanto ela fazia massagens com um massageador na lombar durante as contrações. Um pouco depois das 5h, me levantei da bola, já não estava confortável ficar sentada, precisava andar, precisava ficar de pé. Meu marido e a doula fizeram juntos o alívio da dor por um tempo, até as parteiras precisarem do auxílio dele. Ele me servia de apoio durante as contrações e ela fazia as massagens lombares. Quando ele foi ajudar as parteiras na organização das coisas, minha mãe já havia chegado (já passava de 5h) e serviu de apoio durante algumas contrações. Minha sogra chegou uns 20 minutos depois da minha mãe e foi tão discreta que só percebi a presença dela mais tarde.


Minha sogra veio para ser a responsável pela atenção à minha filha. Havia combinado com uma prima, mas em cima da hora minha sogra demonstrou muito interesse em estar presente e acabei achando que ela seria melhor em tranquilizar minha filha em caso de necessidade, pela maior afinidade. Tinha, inicialmente na gestação (bem como tive na da minha filha), algum receio da presença dela me atrapalhar, mas ao longo da gestação e, principalmente, depois do chá de bênçãos, ficou claro pra mim que ela era uma mulher de referência na minha vida e que só iria acrescentar amor à chegada do Augusto. Só não contava que meu sogro, ansioso como é, pudesse resolver aparecer também! Por sorte, nem cheguei a vê-lo e meu marido já se encarregou de pedir para que retornasse somente depois, quando já estivesse tudo resolvido (e ele veio depois, com o estetoscópio dele ter certeza de que as enfermeiras não deixaram passar nada de errado com o neto).

Comecei a sentir muita dor, precisava de algo mais para ajudar a aliviar. Lembrei de como tinha sido maravilhoso ficar na banqueta de parto no chuveiro no parto da minha filha e pedi pela banqueta. Só que ninguém tinha subido com uma! O velho achei-que-fulano-tava-levando e ninguém tava. A doula disse que tinha uma no carro e saiu pra buscar. Antes de eu entrar no chuveiro (que precisou ser desocupado das coisas de criança/bebê pra eu entrar) a parteira me perguntou se eu não queria ir para a piscina logo, que já estava pronta. Eu tinha medo de ir pra lá direto e queimar a ficha para a hora do expulsivo (achando que ainda ia demorar), então falei que iria para o chuveiro mesmo. Lá a parteira ouviu o coração do bebê, que estava ótimo. A água quente do chuveiro foi ótima, mas na primeira contração que tive lá percebi por que a parteira sugeriu a piscina! Senti uma pressão muito forte na vagina e caiu a ficha, já estava começando o expulsivo! Falei que ela tinha razão, era melhor ir pra piscina mesmo. Foi quando a doula chegou com a banqueta, que nem foi usada no final das contas.

Meu marido já entrou logo na piscina para ficar comigo. Ao entrar tive uma contração e fiquei de quatro até ela passar, já eram 5h35, senti algum alívio de estar na piscina, mas ainda estava tudo bem dolorido.



A doula perguntou se queria alguma música, pedi que colocasse a mesma do parto da minha filha. Encostei no marido e tentei relaxar. Escutei a doula pedindo a senha da wifi para o spotify, ouvi a resposta do marido. Minha mãe e minha sogra estavam conversando, comentei com o marido que estavam falando muito. Acho que a parteira percebeu e pediu para elas ficarem mais quietas, ou eu parei de reparar. Percebi uma movimentação da fotógrafa para conseguir uma luz melhor, quis avisar que tinha uma luminária disponível e que poderia abrir mais a cortina sim, mas me controlei pra voltar o foco para o TP. Quis tomar um pouco de água, mas só consegui tomar um gole.

A dor era muito forte, eu sabia que ele estava coroando, não precisava ninguém me falar. No parto da minha filha não tinha sentido o círculo de fogo, ela havia nascido de uma vez só. Dessa vez eu senti queimar muito a vagina, sabia que estava perto, gritava loucamente durante as contrações (ok, depois que vi o vídeo achei que os gritos nem eram assim tão altos quanto a minha percepção enquanto gritava), sentia nitidamente ela sendo esticada pela cabeça do meu filho. Ouvi o choro da minha filha no outro quarto, no final do corredor. Meus gritos haviam acordado ela. Pensei em avisar, mas vi minha sogra saindo e me tranquilizei, ela iria cumprir bem o papel. O combinado era que a minha filha iria assistir ao parto se estivesse acordada. Mas minha sogra não a trouxe, achou que ela se assustaria com meus gritos e ficou com ela no quarto, acabei achando melhor assim.

Observei que a parteira e minha mãe estavam conversando. Fiquei curiosa, o que estariam conversando? Imaginei que a parteira estivesse tranquilizando minha mãe, já que eu gritava muito. Por algum motivo, estava com pressa e, mesmo sabendo que não deveria, pois aumenta a chance de lacerar, fazia força nas contrações para terminar logo. Falei com ele para fazer força também, que já estava perto e que ele tinha que me ajudar. Chamava por ele. Senti a bolsa se rompendo e a cabeça dele saindo e a dor na vagina diminuiu significativamente. Foi quando a parteira e minha mãe se abaixaram na beira da piscina e minha mãe se posicionou em frente ao Augusto. Então entendi o que estava acontecendo! E achei lindo e me emocionei, mas não tive tempo de dizer nada.



Às 5h50, na contração seguinte, igualmente dolorida, Augusto nasceu! Minha mãe aparou ele e tirou da água! Ele estava com uma circular, minha mãe, emocionada, não percebeu e a parteira precisou voltar um pouco a mão dela para dar folga e tirar o cordão. Em seguida ele veio para o meu colo, meu pequeno. Ainda sentia a vagina arder um pouco e estava exausta, mas não me importava. Quando ouviu o chorinho do Augusto, minha sogra veio com a minha filha. Ao vê-las, perguntei se ela queria entrar na piscina para ver o irmão. Ela ainda estava um pouco atordoada de sono, mas balançou a cabeça em sinal positivo. Pedi que a colocassem na piscina conosco. Ela entrou e ficou olhando para o irmão ali nos meus braços sem dar uma palavra. Explicamos para ela que o Augusto tinha nascido, que ele saiu da barriga da mamãe enquanto ela dormia e que agora estava conosco. Ficamos ali alguns minutos e chegou a hora de sair da piscina para avaliar hemorragia e laceração. Precisei de ajuda para me levantar com o Augusto nos braços, não tinha forças. Ao levantar senti o abdômen pesando flácido e aquela sensação estranha de vazio. Meu marido e a parteira me apoiaram enquanto saia da piscina e ia caminhando para a nossa cama.




Nos recostamos na cama para esperar pelo nascimento da placenta, a família toda, eu, com Augusto nos braços, a irmã e o pai ao lado. Minha mãe veio arrumar meu cabelo, disse que tinha que ficar arrumada pras fotos. Se dependesse de mim ficaria toda descabelada mesmo, só tinha olhos pro meu bebezinho ali nos meus braços. Queria amamentá-lo, mas queria que minha filha não se sentisse de lado. Uma grande preocupação durante a gestação foi sempre incluir ela como participante de tudo, ela deveria se sentir importante para o irmão. Então, chamei ela e falei que era ora dele mamar, mas ele ainda não sabia como. Pedi pra ela mostrar pra ele como fazia pra mamar. Ela então esticou o bracinho e gentilmente pegou meu mamilo e falou “Olha Augusto é aqui. Mama.”. Meu olhos encheram de lágrimas, meu coração se encheu tanto de amor que não cabia. Ele não pegou imediatamente, então ela pediu pra mamar, deixei e continuei tentando ajustar a pega do Augusto. Então ele finalmente pegou e os dois mamaram juntos, todos os nossos olhares se caiam sobre ele, numa calma, como se aquele lugar sempre tivesse sido dele.







Minha filha saiu para brincar com as avós no quarto dela enquanto permanecíamos ali esperando a placenta sair. Coloquei o Augusto para mamar mais e, cerca de 25 minutos depois do seu nascimento, senti uma cólica bem forte (nada comparada às contrações do parto, claro) e a placenta saiu. O cordão já havia parado de pulsar, nem tinha reparado, então a parteira trouxe um bisturi descartável para o meu marido cortar o cordão. Fiquei um pouco tensa com aquele bisturi ali tão pertinho do Augusto, medo de algum acidente, mas a parteira ajudou e foi tranquilo. Coloquei ele pra mamar e não queria fazer mais nada, só ficar ali olhando pra ele.



Já havia se passado uma hora do seu nascimento quando as parteiras pediram para fazer os cuidados e medições dele. Já tinha até me esquecido que tinha essa parte. Enquanto uma avaliava o bebê, a outra me avaliava. Tive uma algumas pequenas lacerações, uma um pouco mais profunda, mas não houve necessidade de suturas. Meu marido foi então realizar o meu desejo de tanto tempo, fez e trouxe pra mim um milk-shake de banana. O milk-shake mais gostoso que já tomei! Finalmente estava livre da minha dieta! Terminaram de pesar e medir o Augusto e colocaram a roupinha. Ele nasceu muito maior que a irmã, da roupa que havia separado, a toquinha não coube e o pezinho da calça ficou apertado.

Meu filho chegou ao mundo com 3180g e 52cm de muita paz e tranquilidade. Um bebê extremamente calmo. Quando a equipe nos deixou sozinhos no quarto para descansar, enquanto arrumavam os equipamentos, minha filha veio à beira da cama e pediu para ver o irmão, que dormia ao meu lado. Ela deitou ao seu lado, ficou fazendo carinho nele e repetindo: Augusto tá aqui, ele é pequenininho, olha a mãozinha dele. Chorei emocionada e me enchi de certeza de que ter outro filho foi a escolha certa para nossa família. Estava ali o início de uma linda história de amor entre irmãos, nascia uma família nova.




Assista ao vídeo do parto: https://vimeo.com/156449065





 
 
 

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