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Relato de Parto Hospitalar no SUS

  • Isadora Tami Tsukumo
  • 15 de fev. de 2016
  • 6 min de leitura

Esse é nosso relato de um parto natural no HMIB, mas com todo o pré hospitalar em casa (ficou um pouco longo, mas acreditamos que pode contribuir para o grupo). Logo que soubemos que estávamos grávidos pesquisamos as opções para um parto natural em Brasília sem plano de saúde privado (não temos) e optamos pelo HMIB com acompanhamento pré hospitalar em casa, pois não me sentia segura para um parto domiciliar no primeiro filho. Para o pré hospitalar contamos com a Nascentia (na figura da EO Letícia Araujo) e com a doula Adele Valarini.

A gravidez correu super bem e o pré natal foi todo no SUS, no centro de saúde número 8, no fim da Asa Sul. O acompanhamento é bom, ainda que os médicos mudem e as consultas não sejam muito demoradas. Alguns exames e todas as ecos fizemos no particular, pois a fila do SUS não dá conta. Ao longo da gestação fizemos as oficinas na Nossa Casa, comandadas pela Adele (muito informativas, ilustrativas e divertidas) e também foram bem importantes a oficina de preparação e vivência - com Marina Nobre e Raíra Cavalcanti da Matriusca - e o Chá de Parto, organizado pela Nascentia.

Quando completamos 35 semanas fiz uma eco e o Antonio estava pélvico pela primeira vez, não completamente sentado, mas caminhando para isso, a cabeça estava na lateral direita da barriga. Fiquei bem apreensiva. Com orientações da Adele, Letícia e Lissandra fiquei quatro dias fazendo exercícios e tomando homeopatia e ele voltou pra posição cefálica e não saiu mais.

Quando completamos 39 semanas começaram os pródromos, cólicas leves e barriga endurecendo. Com 40 semanas, na madrugada do dia 29/12/2015, comecei a perder líquido. Não era muito, mas o suficiente pra ter que usar absorvente e vinha com pequenos vestígios de sangue. Ficamos um pouco aflitos e a Letícia veio em casa bem cedo pra nos orientar. Ela explicou que provavelmente era uma ruptura alta da bolsa, pois eu ainda tinha bastante líquido e avaliou os batimentos do bebê, que estavam normais.

Por coincidência tínhamos agendado para aquela manhã uma ecografia com doppler, que mede os fluxos de sangue e oxigênio da mãe para o bebê. Fizemos o exame e estava tudo bem. Antonio já bem encaixado, fluxos e batimentos normais, líquido diminuído, mas ainda no limite inferior normal. Resolvemos então esperar o início do trabalho de parto. Já havia feito uma sessão de acupuntura dois dias antes para estímulo do início do TP com o Martim da ENAC/Brasília. Resolvemos antecipar mais uma sessão. Às 12hs fiquei uma hora em sessão, primeiro estimulando os pontos que ajudam nas contrações, depois num momento de relaxamento, bastante intenso tudo. Almoçamos e fiquei descansando durante toda a tarde. Continuei com contrações irregulares, às vezes mais intensas, mas sem entrar na fase ativa. No fim da tarde a Letícia sugeriu que eu caminhasse. Fizemos duas caminhadas de uns 40 minutos, no intervalo ficamos mais uns 40 minutos em casa dançando e rebolando na bola de pilates. Na última caminhada, senti que as contrações tinham ficado mais fortes.

Às 21:30 a Letícia chegou em casa e conversamos sobre o que fazer. Decidimos esperar o início da fase ativa até umas 5hs da manhã, quando completaria 24hs de rompimento da bolsa. Caso chegasse esse horário sem início do TP, infelizmente, iríamos pra área de risco do HMIB e eu teria que tomar antibiótico e passaria por algum tipo de indução medicamentosa no hospital, conforme protocolo do HMIB.

Às 22:30 as contrações já exigiam concentração da minha parte e a Letícia sugeriu que fosse para o chuveiro. Neste momento, chamamos a Adele pra acompanhar. Fiquei cerca de 2hs no chuveiro, as contrações ficaram regulares (3 a cada 10 min) e muito fortes. A Adele me ajudava com a respiração e a vocalização para passar pelas contrações. A vocalização foi fundamental pra conseguir respirar e suportar a dor. Vocalização, água quente nas costas, luz de velas e música da Maria Bethânia que o Fernando colocou pra mim me fizeram mergulhar no processo. Também tomei muita água e chá de canela com gengibre ao longo da noite.

Fotografia: Adele Valarini

A Letícia monitorou os batimentos do bebê durante todo o processo, nos dando segurança de que estava tudo bem, baixava nas contrações, mas recuperava o batimento basal nos intervalos. Quando saí do chuveiro sentia muito sono e no final das contrações havia vontade inconsciente de fazer força. Era a fase de transição ou partolândia.

Fotografia: Adele Valarini

Fiquei mais uma hora na cama com o apoio da doula e do Fernando fazendo pressão nas costas e colocando bolsa de água quente, alívio fundamental. As dores beiravam o insuportável, mas no intervalo eu relaxava e me preparava para a próxima. A felicidade de estar em trabalho de parto e a certeza da chegada do Antonio me deram a força mental que eu precisava pra me concentrar e seguir, sabendo que logo iria chegar o final do processo. Ainda assim, minha sensação de tempo ficou totalmente distorcida, para mim eu estava há muitas horas a mais vivendo aquela dor do que realmente foi.

Fotografia: Adele Valarini

Às 00:30 a Letícia fez o toque e eu tinha 5 pra 6 cm de dilatação. Já estava difícil me locomover, então resolvemos ir para o HMIB. O processo de me vestir, preparar tudo e descer os dois lances de escada do meu prédio levou uma meia hora. Eram tantas contrações que tivemos que parar três vezes ao longo dos patamares da escada pra eu suportar. Sem bolsa nem massagem, eu me ancorava na Adele pra passar pelas ondas. No carro segui tendo contrações fortes, o que foi bastante desconfortável. Chegamos no hospital uma e pouco da madrugada. A entrada foi tranquila, estava vazio e pudemos entrar todos, com o apoio da Letícia, que conversou gentilmente com os funcionários. À 01:30 a médica que estava de plantão (Dra. Helen) fez o toque e eu já tinha 9 pra 10 cm. O expulsivo estava começando. Sentia a pressão na parte de baixo da vagina. O expulsivo durou quase duas horas e foi a parte mais difícil pra mim, pois a sensação era de que não estava evoluindo e de que a força que eu fazia era em vão, ainda que eu ouvisse todos me incentivando e assegurando que estava caminhando a cada contração.

Ressalto que a Dra Helen foi muito querida e permitiu a ajuda de todos, assim como não me pressionou em nenhum momento e deixou que eu mudasse de posição, o que fiz quatro vezes. Os exercícios com o epi-no que que fiz durante a gestação, a partir de consulta com a fisioterapeuta Rafaela Rosa, certamente ajudaram, especialmente para que eu confiasse que era segura a saída da cabeça, pois já conhecia a sensação de queimação. Tive dificuldades em entender a força que precisava ser feita para que a cabeça saísse, mas todos me ajudaram a buscar essa consciência na hora, que tem a ver com o relaxamento da região e muito com a respiração.

Fotografia: Adele Valarini

Às 3:35, numa posição parecida com cócoras, mas com a lombar apoiada na maca e as pernas pra cima, finalmente a cabeça saiu e imediatamente todo o corpo e o Antonio foi colocado no meu peito. A felicidade é indescritível. Ao ver os registros de todo o parto fiquei muito feliz, pois descobri que minha expressão foi de prazer e felicidade durante todo o processo, que durou cerca de 5 horas. Eu não sabia, apenas estava totalmente entregue ao processo, ao que se passava no meu corpo, me sentia confiante e muito feliz pela chegada do nosso filho, ainda que sentisse muita dor.

Acreditamos que nossa experiência foi tão boa porque nos cercamos dos apoios necessários no pré-hospitalar e por que escolhemos finalizar o parto (e apenas finalizar mesmo, foram apenas 2hs de hospital) em um hospital público que vem fazendo esforços permanentes para resgatar o protagonismo da mulher no parto. Tenho dúvidas de que esta experiência teria sido possível em um hospital privado. Ainda assim, foi decisivo para o parto lindo e abençoado que vivemos, o papel da médica que estava de plantão, pois ela soube "embarcar" no que eu estava vivendo sem querer impor uma conduta medicalizante ou procedimentos não humanizados ao processo, conduta respeitosa que sabemos que nem sempre acontece no HMIB.

Me senti respeitada na minha opção e tenho certeza que o meu "empoderamento" para viver esse processo também foi fundamental, empoderamento que veio do aprendizado que eu e o Fernando vivemos juntos ao longo dos últimos meses e à equipe de profissionais de alto nível que pudemos contratar (a um custo acessível), que nos deu apoio e segurança pra que eu pudesse mergulhar mentalmente e deixar que meu corpo fluísse e trabalhasse plenamente. Foi o melhor presente que poderíamos ter dado ao nosso filho, em sua chegada aqui, um parto totalmente natural.

Fotografia: Adele Valarini

 
 
 

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