Parto Domiciliar: nascimento de Sofia
- nascentia
- 15 de jul. de 2015
- 7 min de leitura
A chegada de Sofia Sita, contada por sua mãe Joyce Dias:
É quase impossível descrever uma experiência tão mágica em poucas palavras, então a única solução foi dividir este relato em três partes: pré-parto, parto e pós-parto.
PRÉ-PARTO – A escolha por um parto domiciliar
Com 13 semanas de gravidez, eu comecei a praticar yoga para gestantes (o que, aliás, eu recomendo bastante!). Quando as pessoas me perguntavam como seria o parto, eu sempre respondia “Quero parto normal, a não ser que tenha que ser cesária por algum motivo médico”. O parto domiciliar ainda não era uma opção naquela época. Mas depois de algumas conversas na aula, eu percebi que, por conta da nossa realidade obstétrica, um parto normal poderia ser mais difícil do que eu imaginava.
Uma amiga (gratidão eterna, Carol!) me emprestou o documentário “O Renascimento do Parto” e foi aí que tudo mudou. Chorei e fiquei bastante assustada com a realidade mostrada no documentário. O medo de passar por uma cesária desnecessária ou de ter o meu parto roubado me perseguiu por vários dias. Eu sempre confiei em Deus e na natureza (desde criança eu achava fascinante a história da minha avó materna que pariu 17 vezes em uma fazenda) e sempre tive mais medo de procedimentos médicos. Eu sempre acreditei que da mesma forma que meu corpo foi capaz de gerar um bebê, ele também seria capaz de parir.
Depois do susto do documentário, a Carol sugeriu que eu conversasse com a equipe da Nascentia. Marcamos um horário e então conhecemos a Lissandra. Desde a primeira consulta, ela sempre nos atendeu com muito carinho e atenção e sempre teve muita paciência (sem nenhum julgamento!) em responder a todas as nossas dúvidas de pais de primeira viagem. Depois de uma consulta de quase 2 horas, ela saiu da minha casa e meu marido disse: “É isso! Encontramos a nossa parteira.”.
Eu ainda tinha muitos medos sobre o parto domiciliar, mas depois de algumas rodas, conversas com pais que já tinham tido parto domiciliar, discussões com obstetras e pediatras e muita (muita mesmo!) pesquisa sobre os “E se...”, nós decidimos que iríamos tentar. O não extremismo da equipe da Nascentia também ajudou bastante nessa decisão. Para elas, o mais importante é um parto seguro. Se houvesse qualquer indício de emergência, nós iríamos imediatamente para o hospital. Isso me deu uma tranquilidade enorme. Mas aprendemos também que, independente de onde o parto acontecesse (em casa, no hospital ou em uma casa de parto), não existe risco zero. E, por isso, continuamos rezando para que Deus nos mostrasse que estávamos no caminho certo.
PARTO – Vivenciando algo mágico
Quando eu completei 38 semanas, além das contrações de treinamento, eu também comecei a sentir cólicas e dores leve na lombar. Descobri que já estava nos pródromos, mas que essa fase poderia durar dias ou semanas. A minha intuição me dizia que eu não iria passar das 40 semanas, mas era impossível saber quando seria o momento certo. Eu não tinha como controlar o tempo: a minha filha iria chegar no momento dela. Essa fase de espera e ansiedade me ajudou a lidar com vários “medos” antes de me tornar mãe. O apoio da Lissandra e da minha doula Dione foi essencial.
Com 39 semanas e 4 dias, eu e meu marido resolvemos ir à minha médica para uma (provável) última consulta. O atendimento durante o pré-natal tinha sido ótimo, mas sabíamos que, com um consultório lotado, ela não teria tempo para acompanhar um parto natural sem nenhuma intervenção. Contamos a ela sobre a nossa opção de parto domiciliar e, mesmo não sendo tão favorável, ela se colocou à disposição para ajudar em caso de alguma emergência ou transferência para o hospital e confirmou que estava tudo favorável para um parto normal. Foi o último sinal que eu precisava para ter certeza que estávamos no caminho certo.
Na manhã seguinte, eu acordei às 5h da manhã com uma sensação de dor de barriga. Senti que algo estava diferente, mas ainda não acreditava que poderia ser o início do trabalho de parto. Enviei mensagem para a Lissandra às 6h e ficamos acompanhando todos os sinais. Meu marido saiu para o trabalho às 7h40 e as contrações começaram a ficar mais intensas. Ele só chegaria depois das 10h, então eu decidi varrer e passar pano na casa toda (parando toda vez que uma contração vinha!) para passar o tempo. Quando ele chegou, ele começou a marcar a frequência das contrações, que já era de 3 em 3 minutos. Por volta das 10h30, eu vomitei e senti que o trabalho de parto estava mesmo começando. Consegui falar com a minha doula que felizmente estava bem perto da minha casa e chegou em 15 minutos. A Lissandra chegou logo em seguida.
A minha maior dificuldade no início foi achar uma posição confortável durante as contrações. Eu queria me deitar, mas não conseguia – a melhor posição era sentada no chão com as costas na parede. A água quente da piscina também ajudou bastante. Lidar com a dor das contrações é uma experiência única. Não tem como descrever exatamente a sensação de uma contração. Dói. Às vezes dói muito. Meu corpo todo tremia e eu suava. Era como se o meu próprio corpo dissesse “Se entrega!”. No início, eu ainda lutava contra a dor. Mas com a ajuda da minha doula, eu comecei a aceitar cada onda que vinha com o mantra: “Eu aceito, eu confio, eu agradeço!”. Isso me trouxe uma paz e um alívio muito grande.
Foram vários os momentos de dúvida, de medo e de insegurança durante o trabalho de parto. Eu me questionava se iria dar conta de ir até o final já que a dor era grande. Mas, ao mesmo tempo, eu me lembrava de que não era possível escapar da dor. Nenhuma intervenção ou transferência para um hospital iria aliviar 100% daquela dor. Eu precisava aceitá-la como parte do processo de trazer minha filha ao mundo. Mas essa aceitação só foi possível graças ao olhar de confiança e segurança que a Lissandra, Lara, Letícia, minha doula e o meu marido passavam durante todo o tempo.
O apoio do meu marido é algo difícil de descrever em palavras. Desde o início dessa jornada, ele sempre acreditou que eu poderia sim ter um parto natural. Ele acreditou que meu corpo e minha mente eram capazes de superar qualquer dor ou esforço físico. Ele participou das rodas da Nascentia, estudou junto comigo e discutiu diariamente nossos medos e inseguranças sempre com muita fé e com um olhar positivo sobre tudo. E durante o parto não foi diferente. Ele corria de um lado para outro, ajudando a equipe com todo o material, e, ao mesmo tempo, conseguia aparecer durante as contrações para me apoiar, me segurar e dizer que estava tudo bem. Rezamos juntos durante todo o processo. E a minha sensação é de que parimos juntos.
Todo o apoio, carinho e amor da equipe da Nascentia, da minha doula e do meu marido me davam a certeza de que estava tudo correndo bem. Eu só precisava me entregar. E foram praticamente nove horas de entrega. Eu me perdi no tempo e só percebi que a noite já havia chegado ao ver o entardecer da janela do quarto. Percebi também que o momento expulsivo se aproximava. A Lissandra me disse que eu estava prestes a viver a um momento único e que se eu me entregasse a esse momento, eu poderia ter uma experiência linda de conexão com o divino. Eu resolvi então abandonar todos os meus medos que ainda apareciam na minha mente e focar nessa conexão. Durante o expulsivo, eu percebi que a famosa “partolândia” (aquele momento em que a mulher entra em um lugar mágico durante o parto) realmente existe!
Sofia Sita nasceu, em uma piscina no seu quarto, às 19h59 do dia 31 de março de 2015 (39 semanas e 5 dias). Foi segurada pelas minhas mãos e pelas mãos da Lissandra, recebendo os olhares já apaixonados do pai que depois só nos abraçava. Ela não poderia ter sido recebida com mais amor. Cercada de pessoas iluminadas, à luz de velas e com mantras sendo entoados no quarto. Segurei minha filha nos meus braços e chorei. Chorei por ter superado todos os meus medos e inseguranças. Chorei de emoção de ter tido um parto com tanto amor e respeito. Chorei por ter me tornado mãe depois de ter sonhado a minha vida toda com esse momento.

PÓS-PARTO – De volta à realidade
Uma amiga tinha me dito que a gente se prepara muito para o parto e pouco para o que vem depois. E isso é verdade! Após um parto domiciliar tão lindo e cheio de amor, fica difícil se conectar com o mundo real. A ocitocina realmente toma conta de nossas vidas.
O teste do pezinho foi a primeira dificuldade. Depois de um parto sem nenhuma intervenção, o simples pensamento de tirar sangue de um bebê tão pequeno é meio assustador. Recebemos a visita em casa de um técnico que não tinha tanta experiência e eu e meu marido também não tínhamos a menor ideia de como o exame seria feito. O técnico acabou perdendo a veia dela e foi necessário um segundo furo. Escutar aquele choro de dor foi difícil. Mas foi também um aprendizado e um primeiro passo de volta ao mundo real onde teremos que ensinar à nossa filha a como lidar com dificuldades.
Agradecemos a Deus, que realmente está no controle de tudo, por ter nos proporcionado uma experiência tão mágica e incrível. É realmente um milagre! Agradecemos às nossas famílias pelo apoio e por terem respeitado a nossa escolha.
Seremos eternamente gratos à equipe da Nascentia e à minha doula por nos proporcionarem um parto onde a nossa filha foi recebida de uma forma tão especial e com tanto amor. A única reclamação que temos é que deveria existir uma Nascentia para todas as fases seguintes ao nascimento: Nascentia Pediatria para todos os cuidados médicos do bebê (incluindo a primeira consulta e as temidas vacinas!), Nascentia Creche onde bebês pudessem ser recebidos com todo amor e cuidado, Nascentia Escola onde crianças e adolescentes pudessem aprender sobre a importância de se respeitar a vida e a natureza... mas, por enquanto, seremos felizes e gratos por termos vivenciado, na prática, a frase do Michel Odent: “Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer”.

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