Meu quase Parto Domiciliar!
- Camila
- 18 de jun. de 2015
- 7 min de leitura

Descobri que estava grávida de cinco semanas em julho de 2014, na mesma semana em que minha amada vó materna faleceu.
Desde então comecei a me preocupar em como esse serzinho iria sair de dentro de mim. Foi sofrido, já que os hormônios borbulham e tudo parece ser um tormento. Não queria cesárea, mas a opção do normal também me assustava (e ainda me assusta... rsrsrs).
Duas grandes amigas tinham acabado de parir, uma domiciliar e outra humanizado. Elas me inspiraram na minha decisão.
Procurei alguns médicos pelo plano mas nenhum me convenceu de que faria meu parto normal. Muito menos humanizado. Parti para a opção do particular, e me frustrei também, por conta do preço alto ou pelo fato deles não terem mais agenda para gestantes da minha idade gestacional.
Sem saída resolvi ficar fazendo o pré-natal com a minha obstetra com quem me consultava a anos e deixei para pensar nisto depois. Foi quando “contratei” minha amiga querida Doula. Na primeira sessão de massagens ela me pergunta: “Porque você num faz em casa?”
Falei com meu marido que num primeiro momento acuou mas não descartou totalmente a ideia. Resolvemos então nos informar e estudar o caso. Assistimos filmes, fomos a reuniões de equipes de enfermeiras obstetras de PD, lemos alguns textos e decidimos: vamos fazer em casa e com parteiras! O apoio dele foi super importante para mim. Acho que se ele não tivesse me apoiado talvez eu não tinha “segurado a onda” sozinha.
Parto e Equipe escolhidas agora a única coisa que faltava era o plano B. Para onde eu iria se precisasse de cuidados médicos? Minha obstetra se recusou pois não concordava com minha decisão. Então decidi que iriamos pro hospital mais próximo e seria na emergência mesmo. Era o Santa Helena. Nem estava tão preocupada já que eu tinha certeza que ia ser em casa!
O momento agora era de preparo. Fiz massagens com minha doula, caminhadas e fisioterapia. Santa fisioterapeuta! Me ensinou coisas sobre meu corpo, minha vagina, meus músculos, ossos e minha respiração. Eu estava totalmente confiante. Confiante mas com medo, medo da dor, das contrações, do expulsivo, enfim, medo do novo.
E como contar pra minha família? Meu pai ficaria tranquilo, mas minha mãe ia surtar. Então levei minha mãe e minha sogra para a reunião das minhas parteiras. Foi essencial! Agora todos estavam emponderados!
Mas vamos ao que interessa: o parto!
Na segunda-feira dia 06/04/15, as 15:00 hrs, com exatamente 40 semanas, fiz minha última ecografia. Ela estava linda, tudo normal! As 18:00, chegando na minha sessão de fisioterapia, mais precisamente saindo do carro, eu sinto minha calcinha molhar. Foi bem pouco. Seria a bolsa? Quando cheguei no consultório fui ao banheiro e saiu um liquido parecendo agua de coco. Sem odor. Bem pouco também. Minha fisio me alertou que realmente poderia ser a bolsa.
Voltei pra casa e resolvi descansar. Minha mãe, que nunca me manda mensagem, neste dia de noite me mandou perguntando como eu estava. Poder de mãe né? Não contei pois ela iria ficar ansiosa e me deixar também. Eu estava bem calma.
As onze da noite tive uma dor de barriga, era a bolsa que estourou de vez. Minhas contrações vieram as 12:30. Quando começou a aumentar eu já liguei pra minha doula e pra minha parteira. A partir deste momento eu já não sabia mais horário, turno, sequência de contrações, mais nada! Eu estava em outra dimensão. Lembro que minha doula chegou primeiro, contou minhas contrações, ficou com meu celular falando com a parteira, depois me massageou e ficou do meu lado enquanto meu marido descansava pro batidão do dia que estava pra amanhecer. Neste momento da massagem eu tive uma vontade de fazer força.
O dia amanheceu e já estavam todos lá em casa: meu anjo marido, minhas 2 anjas parteiras e minha anja doula. Queria minha anja fisio lá comigo, mas eu já estava com meu orçamento estourado. As contrações vieram mais fortes e nada de eu ter vontade de fazer força. Fizemos o toque e já estava com 7 cm de dilatação. Entrei na banheira e nada da minha neném querer sair. Seus batimentos eram aferidos constantemente e se mantinham fortes.

Minha mãe a esta altura do campeonato já estava sabendo e vinha trazendo almoço pra todos. Queria subir mas eu não deixei. Ela ficou nervosa. Pude sentir. Outra coisa que pude sentir foi a presença da minha vozinha no meu trabalho de parto. Se ela estivesse aqui não tinha abençoado a minha decisão de parir em casa. O tempo passa e nada da minha neném descer ou eu querer fazer força. A contração vinha e eu sentia medo de acocorar ou tentar fazer a tal força.
Já tinha orado pra Deus, Nossa Senhora, pra São Francisco, pra todos os santos e nada de parir. Eu já estava fraca e cansada, não tinha dormido, ou almoçado. Tomei alguns sucos, agua, mel e comi um purê de batata. Pedi novamente que fizessem o toque: 10 cm. E pedi pra sair! Pedi hospital. Todos me convenceram do contrário. Batimentos e pressão ok! Então vamos nessa. Resolvi ficar de cócoras a cada vez que a contração vinha. Só que elas já não tinham ritmo. Tomei um chá, nada delas se regularem. Passou mais um tempo, eram 18:00. 24 hrs que minha bolsa tinha estourado. As parteiras me deram um prazo de até 20:00 hrs pra ficar em casa com segurança.
Foi quando decidi de vez ir para o hospital. Já eram quase 17hrs de TP. Não aguentava mais. Todos correram pra arrumar as coisas e uma das enfermeiras veio comigo, com medo da Isadora nascer no carro. Eram 18:30 hrs e o maior transito nas tesourinhas! Ufa! Chegamos na emergência do Santa Helena e tudo começou a fluir! Cadeira de rodas pra sair do carro (isso mesmo, eu estava tendo uma contração e não conseguia andar), triagem aconteceu rápido, me levaram rápido para enfermaria. Ainda tive que ouvir uma enfermeira me condenar por estar de 24 hrs e bolsa rota! O fim! Realmente é uma hora que você quer mandar todo mundo para aquele lugar.
Entrei na enfermaria pra esperar a médica. Era troca de plantão. Esta hora eu já gritava por cesárea! Queria nem saber. Queria que a dor saísse de mim. As 19:15 já consegui ser atendida. Ela aferiu os batimentos da Dora, fez o toque e me fez fazer tudo do jeito dela. Lembro que ela me disse: “Me ajuda que eu te ajudo”. Ela riu quando me ouviu pedir cesárea. Minha doula já tinha me pagado um sapo por eu ficar pedindo cirurgia. Santa Doula!
A médica me disse que não faria cesárea e que era pra eu ser forte que iria colocar em mim o soro com glicose e ocitocina. Passei a gritar então pela analgesia.
Subi pro centro cirúrgico num elevador que podia ser compartilhado com o público. Via as pessoas me olhando!
Chegando lá não queriam deixar que minha doula entrasse. Dei um grito falando que iria meu marido e minha doula! Que eu sabia dos meus direitos.
Já na sala de parto (com meu marido e minha doula) colocam o soro em mim, que logo faz efeito. Eu grito por analgesia e a médica me informa que iria esperar três contrações pra fazer. O anestesista entra e eu grito por cesárea mais uma vez. Minha doula já quer me matar! (rsrsrs) O anestesista então explica que é arriscada uma cesárea já que a neném estava lá embaixo. Me dão a raqui. Continuo sentindo dor, mas precisava ter noção da contração para expulsar a Dora! A medica queria fazer uma episiotomia (corte vaginal que leva em torno de 20 pontos). A doula me olhou desconfiada. Eu disse que não. A doutora me respeitou. Meu marido segurava minha cabeça, minha doula segurava minhas pernas e o anestesista teve que ajudar com uma manobra de Kristeller (empurrar a barriga para o neném descer) porque ela não descia de jeito nenhum. Até hoje me pergunto se isto era mesmo necessário. Podia até não ser, mas eu já não aguentava mais e minha doula não se intrometia muito nos trabalhos dos médicos. Sua atenção era focada pra mim e para meu conforto (se é que conforto era possível).
As contrações vinham e eu gritava. O anestesista falava pra eu não gritar e colocar a força do grito no meu ventre! Fazer força mesmo. Gente ela não saia. Eu fazia tanta força que achei que as veias das minhas temporas iriam explodir. A obstetra então pede que as enfermeiras avisem a pediatra que podia vir! Pensei: “Agora vai!”. Quando por fim Isadora resolveu estrear. Ufa! Achei que não ia ser possível. Mas saiu! Lembro a enfermeira gritando: “Hora do nascimento 20:52”. Achei engraçado.

Dora veio direto pros meus braços. Sem respirar. Toda “sujinha” de amor e o pai dela quase surtando achando que ela não estava bem! Ela veio e chorou! Foi lindo! Já cortaram logo o cordão umbilical. Ela ficou um pouco comigo e a levaram para os primeiros cuidados. Gritei pro meu marido: “vai com ela!!!” e fiquei na sala de parto com a doula e a médica me costurando. Seis pontos! Fiquei com marcas. Mas como diz minha partira: “cicatriz do amor”. E melhor ainda minha fisio: “uma orquídea sem uma pétala”.
No final tudo deu certo! Isadora veio com saúde. Primeiro apgar (espécie de nota para as condições do recém-nascido) foi de 8 e segundo apgar (aferido 5 minutos depois) foi de 9.
Mas pra mim eu não consegui. Meu parto veio cheio de intervenções. Falhei! Não pari em casa. Já atribui a culpa até a minha falecida avó, a um plano espiritual .... Sei lá. Estou num processo de aceitação e procurando entender o que houve. Não sei porque as coisas aconteceram deste jeito. Mas estou procurando aceitar meu destino e a vontade de Deus que esteve comigo o tempo todo!
Mesmo chateada e sem entender, estou feliz pela graça divina derramada sobre mim! Sinto que sou muito abençoada e merecedora dela. Agradeço a Deus os anjos que me enviou: Minha mãe Cristina, meu amado marido Ernani, minhas parteiras Letícia e Lissandra, minha doula Dione e minha fisioterapeuta Natacha. Com essas mulheres percebi o força feminina e como nos ajudamos quando o momento é de colocar uma vida no mundo!
Enquanto isso eu vou procurar digerir todo ensinamento, aceitando meu destino e a vontade divina. Finalmente agradeço à minha vó que me ensinava: “entrego, confio, aceito e agradeço” (Hermógenes)

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