Relato paterno de um parto transformador
- Renato Contaifer
- 16 de mai. de 2015
- 6 min de leitura
Ao receber a feliz notícia de que seria pai pela primeira vez, tinha a certeza que de que minha vida não seria a mesma a partir dali, mas não imaginava quantas experiências marcantes estavam por vir, até antes mesmo do meu filho nascer.
Estávamos com planos de mudança de cidade, iríamos tentar iniciar uma nova vida em João Pessoa-PB. Passamos um tempo na cidade pra sentir um pouco da atmosfera e já tentar agilizar algumas coisas. Quando voltamos, no dia seguinte, feriado de 21 de abril, acordei e Carolina tinha saído muito cedo sem me falar nada. Pensei, está aprontando alguma.. Na volta ela tentou desconversar, mas pude perceber algo no ar e logo me disse que havia saído para o laboratório fazer o exame de gravidez, e que ainda, caso estivesse grávida não era pra eu contar nada pra ninguém, pelo menos durante os 3 primeiros meses!
Ali já tivemos um primeiro desentendimento (rs), pra mim era um absurdo, algo totalmente impossível, receber uma notícia dessas e não poder compartilhar, tratar como segredo. Ela me explicou os argumentos e fiquei com aquela pulga atrás da orelha. Bom, após algumas horas veio a confirmação, estávamos mesmo esperando um bebê! Aquela emoção misturada com frio na barriga e entramos em acordo de que contaríamos para pessoas mais próximas, mas sem espalhar muito a notícia (depois passei a entender melhor os motivos) e fiquei em êxtase esse dia.
No início não me envolvi muito no sentido de correr pra internet ficar buscando informações sobre parto, médicos, bebês, etc. Ela já estava nessa missão, diariamente. Sabíamos do documentário “O Renascimento do Parto” e no dia das mães resolvi presenteá-la com o DVD e fomos assistir. Ali naquele momento tive contato com um turbilhão de sensações e as coisas foram ficando mais claras, como se estivessem caindo várias fichas. Ou seja, se quiséssemos ter um parto, no mínimo normal, não seria tão fácil assim, teríamos que batalhar por isso. E ali começou nossa saga...
A primeira obstetra foi uma consulta pelo plano de saúde. Uma ginecologista que já tinha atendido a Carol algumas vezes. Ao contar pra ela a novidade, a primeira pergunta da médica: “- Vai ser cesárea né?!”.
Sem hesitar a médica já mostrou suas credenciais de cesarista, dizendo que inclusive faria tudo em 25 minutos(!). Mais uma constatação: por plano de saúde um parto normal seria uma exceção.
Primeira consulta frustrada, descobrimos uma outra médica, supostamente humanizada. O atendimento era particular, mas era bem recomendada e tinha disponibilidade na agenda pra nos atender.
Que alívio! Tínhamos encontrado a médica ideal pra nos acompanhar (só que não)…
Fizemos quase todo o pré-Natal com ela, mas sempre achei o atendimento estranho, frio, consultas muito rápidas, burocráticas. Sempre estava tudo bem, uma recomendação ou outra e nada mais. Em uma das consultas perguntei algo sobre o parto e recebi uma resposta do tipo "não se preocupe com isso ainda, tem muita coisa pela frente..” e já deu uma tirada ali. Durante todo o período mal ela sabia que já estávamos bem envolvidos com o assunto, conversando com algumas doulas, e adquirindo mais informação e conhecimento que fomos buscando "por fora".
A partir dali nossa intenção já era mudar de médica, mas nos deparamos com o agravante da data prevista para o parto: 27 de dezembro. Período de natal e ano novo onde todos os profissionais que procuramos estariam de recesso ou viajando. Nessa altura do campeonato, pra Carolina já estava bem clara a vontade de ter um parto em casa, pra mim ainda era um pouco assustador bancar essa escolha. Queria um parto humanizado, respeitoso, mas que pudesse ser em um hospital ou mesmo na Casa de Parto, referência aqui no DF.
Já tínhamos ouvido falar de duas equipes de enfermeiras obstétricas em Brasília que faziam o atendimento de parto domiciliar, Luz de Candeeiro (que não estariam disponíveis na época) e Nascentia, que era mais nova no mercado, mas uma boa opção recomendada.
Por volta das 34 semanas ficamos sabendo que a Nascentia faria um encontro de gestantes com o tema "parto domiciliar". Ficamos animados, porque seria uma ótima oportunidade pra ter contato mais de perto com o trabalho delas e tirar todas as dúvidas sobre o assunto. No fundo eu sabia que o encontro seria primordial pra eu ter a segurança que faltava e bater o martelo dessa decisão.
O encontro foi ótimo, ambiente agradável, uma energia incrível, vídeos emocionantes e muita informação e troca de experiências. Ficamos encantados com tudo, as enfermeiras da equipe, os casais, o profissionalismo.
E saímos de lá decididos, Bento nasceria em casa! (ou não).. Outra constatação: Elas também não estariam aqui no período do Natal. :(
Entre uma conversa e outra nos deram a possibilidade de contar com uma enfermeira backup pra o caso do parto acontecer no período da ausência. Poxa, gostamos tanto delas e vamos precisar ter o parto acompanhado por outra. Não deixava de ser uma possibilidade, mas não era o que realmente a gente queria. Nessa altura não tínhamos muita opção, já tínhamos abandonado a médica e as consultas estavam sendo feitas pelo SUS, no centro de saúde do nosso bairro. Então topamos! Vamos receber o Bento em casa e contar com a Nascentia, seja com quem tiver disponível no dia.
A família mais próxima já estava sabendo da decisão, fechamos com a doula e com a equipe. Tudo já estava bem mais claro e a decisão do parto em casa já era confortável pra nós. Começamos as consultas em casa com a Lissandra e veio uma feliz surpresa, ela não iria mais viajar! Enfermeira e pessoa incrível, que tivemos tanta afinidade iria estar conosco no parto e fazer todo o acompanhamento pré e pós. Agora sim o alívio, era só continuar o acompanhamento e esperar o dia.
Só aproveitar pra deixar claro que sei que trata-se de um relato de parto, mas não conseguiria falar dele sem contextualizar todo o processo.
O natal passou, elas viajaram, voltaram e ainda nada.. Passou o revéillon, 40 semanas e ainda nada…
Na madrugada do dia 01 para o dia 02/01 a bolsa rompeu e aí sim a certeza, o Bento estava chegando!
Carolina foi tomar um banho, avisamos a equipe e a doula, e na manhã seguinte elas viriam aqui visitar. Fomos dormir e descansar um pouco (ou tentar).
Às 8h da manhã começaram as contrações, e rapidamente foram se intensificando. Tentamos até um aplicativo de celular que faz a contagem, já estavam bem seguidas. Lara e Lissandra, as enfermeiras perceberam que estava andando muito rápido o processo, deram uma saída rápida e na volta já começaram a armar todo o aparato. A doula já estava dando todo o suporte pra Carol, que nessa altura, por volta de 11h, 12h já estava tendo contrações (e dores) bem fortes.

Eu estava feliz com tudo aquilo se encaminhando, mas também tenso por não ter um plano b definido, caso precisasse de uma transferência para o hospital.
Passaram um bom tempo no chuveiro, dizia aliviar a dor e relaxar um pouco e fomos enchendo a piscina, inflando na sala do apartamento. Não queria avisar pra ninguém, mas na hora coloquei um aviso na porta “Gestante em trabalho de parto, está tudo bem :)" para o caso de algum vizinho estranhar toda aquela movimentação lá em casa.

Depois que a piscina estava cheia, ela veio pra sala e entrou na água. Veio um alívio, relaxamento, mas as contrações estavam bem fortes e mesmo de fora dava pra ter uma noção disso. Sempre monitorando os batimentos do coração do bebê, depois de mais ou menos uma hora dentro da piscina, Lissandra falou: "já está com batimento de expulsivo". Bento estava realmente chegando!

Nos abraçamos e tivemos um momento de vínculo do casal ali, sempre observados pela equipe, que respeitou todo o nosso momento...e que momento!
Lissandra estava de frente pra Carolina e quando avistou a cabecinha do bebê, olhou pra mim e disse: " Vem cá pegar seu bebê!”.

Daí em diante me faltam palavras pra adjetivar a sensação. De uma forma que nunca imaginei, participei ativamente do momento, pegando o Bento assim que saiu, ainda dentro da água e entregando para os braços da sua mãe.

Ali ficamos um tempo, até o cordão parar de pulsar, nós 3 desfrutando do momento único, o nascimento do Bento, o nascimento de uma nova família!



E ali foi apenas o começo... (mas isso já é outra história!).
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