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Parto Domiciliar: nascimento da Aisha

  • nascentia
  • 11 de abr. de 2015
  • 9 min de leitura

A chegada da Aisha, por sua mãe Rosana:

Pode até ficar longo, mas a ideia é registrar toda a emoção que senti com a chegada desse pacotinho de vida no dia mais importante e feliz da minha vida: ser mãe. Caso prefiram, vá direto ao relato do parto. Dizem que o maior sonho muda a medida que vamos crescendo, envelhecendo enfim... Comigo foi diferente. Desde que me entendo por gente meu maior sonho sempre foi ser mãe. Mas eu queria dentro de um contexto familiar... Quem me conhece sabe que sou extremamente ligada a família e não existe nada mais importante. Então fui enrolando com os primos, sobrinhas e afilhada. Mas aos 34 anos chegou a hora. Minha hora. Meu bebê. Eu e o Leo estávamos casados há 2 anos quando decidimos que estava na hora de ter um bebê. Primeiramente coloquei nas mãos de Deus, fizemos os exames para ver se estava tudo ok e começamos a praticar. Praticar muito!!! (Bom, né) Pensei que engravidaria no primeiro mês... Nada disso. Paciência! No segundo também nada. Paciência! Já queria fazer exame de fertilidade e o médico pediu para tirar isso da cabeça, namorar e deixar rolar. O tempo passou. Mudei o foco. Tirei férias. Depois de nove meses (quase um parto), um dia de atraso e resultado positivo . Antes mesmo de engravidar assisti ao filme Renascimento do Parto. Fiquei maravilhada, mas ao mesmo tempo assustada com o sistema. Depois visitei minha amiga Heide que tinha tido a primeira filha na água em um parto humanizado hospitalar. Foi uma grande referência e incentivadora. Na primeira consulta, já com o exame positivo, a primeira dificuldade: o médico nos dispensou porque estaria de férias na minha DPP (01/01/2015). Com indicação de amigas do trabalho, consegui um GO que apoia o parto normal. Também estaria de férias na minha DPP, mas aceitou fazer nosso pré- natal. A partir daí mergulhei nas leituras. Dizem que grávida dorme muito. Que nada. Lia muito procurando entender o contexto em que nossa situação se encaixava, os interesses envolvidos, o papel dos médicos, do hospital, da doula, das parteiras. Os aspectos econômicos do complexo sistema. Assisti vários vídeos de partos humanizados e li vários depoimentos. Aos poucos fui envolvendo meu esposo. Difícil, viu! Mandava e-mail com um depoimento, pedia para assistir ao vídeo comigo, comentava da minha vontade em pegar o bebe ao nascer e a emoção que seria quando ele cortasse o cordão. Fomos ao encontro da doula Debora Amorim para uma primeira conversa. Uau!!! A primeira impressão não poderia ser melhor, ela se mostrou atenta à nossa insegurança de tomar decisões e explicou seu papel no processo. Também fotógrafa, tornou-se nosso porto seguro para tomadas de decisões. Com ela compartilhamos medos, angustia e alegrias. Tiramos fotos para nosso álbum de gestante, pintamos a barriga, rimos e choramos. Entendemos que a doula é responsável por apresentar alternativas para o maior conforto físico e emocional da mãe e da família. Para registrar, conversamos com outras doulas, mas temos um carinho especial com doula Adele (nossa doula virtual). Participamos da 1a roda da Nascentia e a nossa primeira participação em roda. A Lissandra (uma das enfermeiras da equipe) já tinha me falado por telefone que não tinha vaga para minha dpp. Entretanto, a roda é gratuita e aberta para gestantes e família. Então, fomos. Na roda ouvimos um depoimento ao vivo de um parto domiciliar, conhecemos casais com dpp próxima a nossa, compartilhamos angustia e nos apaixonamos pela equipe. Acredito que ali o Leo se rendeu ao parto natural. Ali nosso amor triplicou. Ali ficamos mais unidos que nunca. Ali percebemos que estávamos deixando de ser apenas marido e mulher e nos tornando pai e mãe. Ali começou minha vontade de parir em casa. O tempo passando e o “e se” insistia em perturbar minhas noites de sono. Era o “e se eu não conseguir sair do lado negro das estatísticas de cesarianas” e o “e se acontecer alguma coisa no parto domiciliar”. Mesmo estudando os aspectos e recursos que podiam ou não ser aplicados, o parto domiciliar parecia ousado demais para primeira viagem. Gastei horas na internet explorando partos na Europa e cesarianas no Brasil. Dei me um tempo e comecei a refletir se não estava na hora de tomar a primeira decisão da maternagem. Será que não estou convicta do meu desejo? será que entendi errado que uma mulher é capaz de parir e que o bebê sabe nascer? daquele dia em diante eu soube que a Aisha nasceria na nossa casa. Consegui ser convincente do meu desejo e ganhei o apoio do maridão. Decidimos juntos assumir a responsabilidade e protagonismo do nosso parto. Faltava convencer a Nascentia em nos assistir. Foram várias conversas e visitas para entender como funciona a assistência ao parto domiciliar, quais as possibilidades de transferência e o plano B. Falamos sobre o medo, a dor, o local, a posição e a família. Fechamos! Agora é achar um GO no oitavo mês que respeite nossa vontade. Falei com vários médicos por celular, zap zap e todos que diziam ser humanizados tinham uma desculpa. Até chegarmos a Dra. Taciana Rolinho. Nosso maior receio era que ela não aceitasse nossa vontade de parir em casa e dissesse que já estava tarde para mudar de médico. Pelo contrário, não só respeitou como aceitou ser nossa back-up e logo percebemos que a mudança de médico na última ora era comum, pois as armadilhas do sistema vão ficando mais visíveis no final da gravidez. Apesar de ter encontrado o caminho seguro, ainda tinha que convencer a família e amigos de que fazíamos o correto, e mais do que isso, tivemos que lidar com a responsabilidade de discordar de uma multidão recomendando parto hospitalar e até cesariana eletiva. Os dias foram passando, e começaram questionamentos sobre marcar data, esperar demais, casos e tragédias. Um terrorismo psicológico muito comum a que somos submetidos neste momento de fragilidade. Mostrei vídeos, falei sobre artigos, convidei para rodas de gestantes. Fiz tudo que estava ao meu alcance para mantê-los seguros. Esforço em vão, afinal de contas é muito mais fácil não assumir nenhuma responsabilidade, delegar ao médico as decisões, eximindo-se das consequências das ações e omissões. Decidimos abandonar o papel de vítima da armadilha e assumir toda a responsabilidade, fosse um sucesso ou fracasso. Este foi o maior desafio, discordar dos que queriam nossa felicidade, sobre algo que é tão crítico como a minha saúde e do nosso bebe e correr o risco de sermos apontado como responsáveis por uma tragédia familiar. Me fortaleceu. Hoje em outros desafios da vida, quando bate a insegurança e dúvida, incorporo a leoa empoderada que fui e me encho de confiança, desafiando, com racionalidade e determinação as forças de oposição. Com quase 41 semanas a ansiedade avassaladora tomou conta do meu ser. Minha pequena afilhada (3 anos) fazia com que meus dias se tornasse mais leves e engraçados. Meus pais, com todo amor e preocupação, ficavam mais no desconforto do meu mini apartamento que na cada deles me dando força. Comecei a tomar o chá de Naoly, fazer acupuntura, namorar muito e até descolamento da membrana. Vem, mãezinha, vem. Mas ela viria só no tempo dela. Eu alternava a vontade de partir logo com a vontade de permanecer grávida. Minha gravidez foi de baixo risco do início ao fim. Não tive enjoos, sangramentos ou qualquer outra intercorrência. Curti muito estar grávida. Me sentia poderosa, linda, realizada, engraçada, leve (apesar dos 15 kg a mais) e feliz. 05 de janeiro, 41 semanas, noite de lua cheia e nada! Vem, mãezinha, vem. O parto 08 de janeiro de 2015, 1 hora da manhã, depois de muita ocitocina numa relação super engraçada, começaram as contrações. Sentia uma cólica abdominal muito pior que a menstrual, mas anunciava a alegria que estava por vir. A emoção estava me corroendo. O Leo foi dormir e eu comecei a andar para lá e pra cá. Eu deitava para tentar dormir, mas a cada 10 minutos eu mexia tanto que era melhor ficar perambulando pela casa.


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De madrugadinha tomei uma chuveirada para aliviar a dor. Às 5h da manhã avisei minha querida doula para que ela pudesse se organizar e minha parteira linda que ficasse a postos. Acordei o Leo para cronometrar, mas ainda sem nenhum ritmo. As dores ainda eram gostosas e amigas. Me dava vontade de vocalizar, mas me contive para não acordar a Taylla tão cedo. O plano era que ela participasse da chegada da prima, mas tínhamos o plano B caso ficasse difícil tê-la por perto. Próximo das 6h avisei meus pais, pois viriam de Anápolis somente a tarde e eles eram o plano B para ficar com a Taylla. Às 7h da manhã a doula chegou para tomar conta de mim, da minha afilhada e do meu marido que estava com holter. A Leticia não demorou chegar para a primeira avaliação. Confesso que quando ela disse que estava com 1cm de dilatação e que irÍamos enfrentar a madrugada fiquei meio desanimada. Estava a mais de 24 horas acordada e madrugada toda perambulando pela casa. Vontade de parir logo, de olhar nos olhos dela e dizer como eu a esperava. Vem, mãezinha, vem. Eu vocalizava muito todas as contrações e a Taylla começou a ficar assustada. Meus pais chegaram e fiquei mais tranquila. Queria muito minha mãe comigo, então meu pai desceu com ela e fiquei mais tranquila. Me entreguei por completo. Passamos a manhã toda com massagem, a queridíssima doula apertando meu quadril, na bola, de cócoras, no chuveiro. Como as contrações ainda estavam amigáveis, a secretária serviu o almoço e o Leo foi na clínica tirar o aparelho do coração. Lá ele recebeu uma ligação da Letícia: “Leo, corre porque não vai dar tempo de encher a piscina”. As contrações estavam a todo vapor. Às 16hrs entrei na piscina pensando que já era a hora. Mais uma contração. Para tudo, concentra, grita, perde os sentidos. “Não, não, não aguento mais”. Minha doula com o olhar seguro disse: “Sim, sim, você pode”! “Deixa ela vir”. O Leo muito mais que doulo, também era fotógrafo, arrumava meu cabelo (eu tinha falado pra ele não deixar nenhum fio de cabelo arrepiado) e dizia que eu estava ótima. Éramos apenas um parindo nossa filha.


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Tinha vontade de fazer força, sentia ela pressionando. Mas logo parecia que estava naquela água a horas. Desanimei. Eu estava meio perdida dos meus sentimentos. Estava desconfortável, cansada, sentia muito calor, sem apoio na hora das contrações. Tive medo. Medo de não ter força na hora do expulsivo. A parteira Lissandra bem confiante e certa do que dizia pediu para eu não me preocupar com isso porque a força viria. Viria do além. Pedi para sair e deitei na cama. Mais uma contração, para tudo, concentra, respira, segurando a mão da doula e do Leo, gritei muito alto e fiz força. Não comemorei. Afinal, estava longe da madrugada. Meu irmão entrou com a minha sobrinha de 4 meses, minha irmã e cunhada. Vichi, chegou todo mundo. Estavam todos ali. Pensávamos na presença apenas da minha mãe. Não sabíamos que era o que estava faltando. Agora sim eu estava pronta. Agora a Aisha disse sim. Precisávamos compartilhar esse momento com toda a família, inclusive a pequena de 4 patas, como sempre fizemos nas datas importantes. Agora ela vem! A Letícia colocou todo mundo para fora e ficamos somente eu e o Leo no quarto. Já estava sem força, nessa hora pedi muito para ir para o hospital. Trocamos carícias, mas as contrações de 1 minuto sem intervalo não permitia muita coisa. Estava perdida na enxurrada de hormônios. Pedi anestesia: Pinga. Qualquer coisa para parar dessa dor. Não vou aguentar. Fomos para o chuveiro. Não tinha mais tempo para descansar. Me toquei e senti a cabecinha dela. Estava a meio dedo de distância. Comemorei. Vibrei. Era hora de nascer. Era hora de renascer. Chama a Letícia que ela está vindo. Chama meu irmão para filmar. Não sei como coube tanta gente naquele mini banheiro. O Leo lá embaixo para segurar a Aisha, a parteira agachada para ajudar, a doula segurando minha mão, minha irmã filmando no celular, meu irmão tentando ligar a câmera, minha mãe tampando os ouvidos. Até agora não tinha gastado nenhum vocabulário chulo. Estava plenamente consciente do meu corpo, senti meu períneo abrir. A Aisha fingiu que ia sair e decidiu ficar mais um pouquinho. Aqui usei o vocabulário chulo. Foi um grito de bicho ferido. Grito libertador. Alucinante bola de fogo. Pude até sentir ela girando. Às 18h15 saiu a cabecinha, saiu tudo. O Leo, segurando o choro para se mostrar forte, nessa hora não aguentou e, chorando de emoção a recebeu em seus braços. Para essa hora não tenho palavras. Inominável. Ela veio para o meu colo, tão pequenininha e tão forte. Choramos juntas! Agarrada no colo e ainda ligada a mim, fomos para a cama esperar a placenta nascer e cortar o cordão. Ali não cansei de acariciá-la, de sentir seu cheiro, seu calor, sua cor e me apaixonar. Fizemos selfs com o papai chorão, avós, tios e primas. O Leo cortou o cordão que já tinha parado de pulsar e ela veio para o peito. Que delícia!!! A placenta foi congelada em um pote de sorvete. Um parto sem anestesia, sem episiotomia, sem intervenção. Na nossa casa, no nosso tempo e do nosso jeito. Hora de vestir a pequena, pois o banho seria só no outro dia (que cheiro gostoso!), medir e pesar. Com 3,600 gramas e 51 cm a Aisha veio me ensinar a ser mãe. Antes eu era Rosana Almeida e Silva Fernandes, hoje eu sou mãe da Aisha. Deus me confiou um anjo e eu a amo mais do que qualquer pessoa pode amar na vida. Abençoados fomos! Abençoados somos! Gratidão: Primeiramente a Deus que me confiou esse anjinho. Ao meu amigo, companheiro e marido, Leo, que pariu comigo, esteve presente em todas as rodas, em todos os exames e em todas as consultas. A minha família, em especial, minha mãe que esteve presente todo o tempo segurando minha mão, me dando força e orando por mim. A queridíssima doula Deborah Amorim que nos deu todo suporte emocional e físico para que eu ficasse o mais confortável possível. A equipe Nascentia que invadiu nossa casa, nossa intimidade, nossos corações. Nos assistiu com todo o respeito e carinho desde o pré-natal. Esteve conosco até na difícil tarefa de amamentar, nos ajudando e confortando.


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