Relato de Parto: Nascimento do Miguel
- Aline Figueiredo
- 21 de mar. de 2015
- 9 min de leitura
Relato de Parto: Nascimento do Miguel
Miguel chegou no dia 07/03/15 às 19:40h, nos mostrando que algumas coisas podem sair diferente do planejado, mas, ainda assim ser uma experiência linda e intensa.
O parto - pela Aline, mãe do Miguel:
No dia 01 de março acordei com uma vontade de escrever uma cartinha para ele. Uma cartinha para dizer que ele podia vir, que ele podia nascer. Nela falei o quanto era grata a Deus por me permitir uma gestação maravilhosa. Disse o quanto eu me sentia feliz por ele ter me escolhido para ser sua mãe. Disse o quanto o amava já antes mesmo de vê-lo e o quanto sentia que o nosso vínculo já era forte. Também pedi desculpas por não saber lidar tão bem com alguns problemas pessoais e expliquei para ele que ainda tinha muitas angústias, medos e dúvidas, mas que juntos resolveríamos tudo isso... Ele, como já me conhecia tão bem, acreditou só um pouquinho nessa última parte e achou, que mesmo eu já tendo passado da 40ª semana de gestação, precisava me dar mais um tempinho, um tempinho para eu resolver umas coisas que estavam me machucando e para coloca-las para fora. E, então, seis dias depois, ele resolveu aceitar o meu pedido e nascer... Aliás, nascer lindamente!
Mas antes de falar sobre o nascimento dele, acho que é importante falar sobre a escolha do parto. Para mim, que sou nutricionista, e para o pai, que é médico, nunca seria possível uma decisão em relação ao parto que não passasse pela razão e pela ciência. Por isso, fomos atrás de informação. A primeira decisão muito clara e baseada em evidências foi de que eu teria um parto normal (pelo menos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, eu tinha aproximadamente 90% de chance de ter esse tipo de parto, se as coisas acontecessem baseadas em evidências na obstetrícia do nosso país). Essa decisão implicava em menos riscos tanto para o bebê quanto para mim, então não tinha nem discussão. A segunda decisão foi a de ter um parto respeitoso e seguro, onde ele tivesse que ocorrer (hospital, casa de parto ou casa). Essa segunda decisão também foi fácil, né? Quem não quer ter seu filho em segurança e de forma humanizada e respeitosa? A terceira decisão, foi a do parto domiciliar. Essa foi mais difícil, porque ela surgiu para mim pelo lado da emoção e da intuição e não pela razão como eu estava acostumada. Apesar de sentir que, para mim, esse era o melhor modo de nascer, eu tinha muitas dúvidas e receios, principalmente dos “e se...” - e se acontecer alguma coisa durante o parto?, e se eu tiver um problema?, e se meu filho tiver alguma intercorrência? (mal sabia eu que teria um “e se” e que sua resolução seria tomada de forma segura e acertada, mas daqui a pouco conto melhor sobre isso)... Por isso, fui atrás de informação de qualidade e estudos bem feitos (com boa metodologia) para ver se esse meu instinto tinha respaldo científico. Então, li muita coisa e participei de rodas gestantes com esse tema de discussão. E para minha felicidade, vi que os bons estudos científicos indicavam que para uma gestação de baixo risco (que, graças a Deus, eu me encaixava) era seguro parir em casa, que especialistas no tema e a própria OMS apoiavam essa forma de parir e que diversos países já incentivavam esse tipo de parto em gestações de baixo risco. Que alegria! Agora só era necessário escolher uma equipe que nos acompanhasse de forma respeitosa e segura e, para isso, contamos com uma ajudinha de Deus, que colocou no nosso caminho pessoas maravilhosas, que viam o nascimento de uma forma maior do que somente um evento biológico. E assim, escolhi a equipe da Nascentia (com três enfermeiras parteiras competentes e sensíveis ao universo feminino: Letícia, Lara e Lissandra), a queridíssima e super humana Nina como doula (da Deútera) e o Dr. Bruno como obstetra backup, que sempre foi muito respeitoso, competente e em nenhum momento me desincentivou a ter o tipo de parto que eu optei. No entanto, resolvi não contar para todo mundo sobre essa decisão, pois nem todos estavam dispostos a estudar a respeito e a abrir seu coração a esse tipo de escolha. Além disso, não queria ter que convencer ninguém de nada, pois eu já estava convencida. Pronto, agora posso contar como foi o parto!
No dia 07 de março, acordei com uma cólica diferente e com uma dor lombar. Estava com 41 semanas e dois dias de gestação. Fiquei feliz, pois sabia que isso era um sinal de que o Miguel estava querendo vir. Como a cólica estava bem tranquila, achei que podia manter minha programação do dia e que o processo ainda ia demorar (como eu tinha lido em tantos relatos de parto). Por isso, tomei café, peguei o carro e fui à feira e depois para uma slingada comprar um modelo de sling que ainda não tinha. Na slingada, comecei a sentir essa cólica mais forte. Liguei para minha doula e para minha parteira principal e elas ficaram tão felizes como eu, me disseram que esses eram os primeiros sinais, sugeriram que eu descansasse e poupasse energia e que as avisasse do que eu estava sentindo. Acho que esqueci de contar para elas que estava dirigindo... Avisei também para o pai do Miguel, que estava ajudando um amigo a se mudar, e para uma amiga que me apoiaria no parto. Como ainda não tinha me tocado que o trabalho de parto já estava de alguma forma acontecendo, resolvi ir almoçar com os meus pais e só descansar à tarde. Cheguei ao almoço meio mal humorada, comentei o que estava sentindo, mas disse para eles não ficarem preocupados, que eu tinha começado a sentir isso tudo só pela manhã, que achava que essas dores eram pródromos e que iam demorar dias. Ao mesmo tempo, comecei a sentir um pouco de líquido saindo e umas contrações não ritmadas e dolorosas durante o almoço. Como eu disse que estava bem para dirigir, meu pai concordou que eu dirigisse, mas foi me seguindo de carro até em casa. Acho que nenhum de nós tinha ideia que a coisa ia andar tão rápido. Foi o retorno para casa mais longo que eu tive na vida! Eu moro longe do restaurante onde almoçamos e pegamos uma tempestade de granizo onde não era possível enxergar um palmo na frente do carro! Fiquei muito nervosa na volta para casa, pois as contrações estavam mais fortes e mais frequentes e por que a bolsa estourou enquanto eu dirigia. Avisei a todos novamente e eu e meu pai ficamos esperando a chegada deles em casa. Já não achava posição, estava muito mal humorada e vi que as contrações estavam ocorrendo mais ou menos a cada 2-3 minutos (não conseguia contar de tão nervosa que estava, quem contou foi minha amiga Renata que chegou primeiro à minha casa). As outras pessoas foram chegando em seguida, graças a Deus, pois precisava delas para me sentir segura. A parteira viu, quando chegou, que eu estava com 8 cm de dilatação! O que lembro a partir daí parece ser meio misturado e confuso. O que sei é que queria ficar sozinha com a doula quase o tempo todo. Quando as parteiras entravam de tempos em tempos para nos avaliar, eu devia fazer uma cara bem feia para elas (e olha que eu gosto demais delas! Kkk)! Foi tudo muito profundo, muito intenso e sim, muito difícil. Acredito que só consegui porque estava me sentindo respeitada, acolhida, amada e quase uma deusa perto das pessoas que escolhi para estarem ali... Hoje respeito muito mais pessoas que conseguem ter o parto normal em hospital, pois eu, sinceramente, não sei se conseguiria... E falo isso, mesmo acreditando na perfeição da natureza e na força da mulher. Mas, para mim, o ambiente (minha casa, com pouca luz e silêncio ou, em alguns momentos, com músicas lindas, com a possibilidade de mudar de posição, de ficar na água e de beber e comer o que eu quisesse e na a hora que eu quisesse, entre outras coisas) e as pessoas que estavam comigo foram essenciais para que eu conseguisse passar por esse momento tão especial para mim (e de uma forma intensa e bonita). Fiquei no meu chuveiro e no meu quarto a maior parte do tempo e gritei MUITO (acho que gritei em todas as contrações!). A princípio, todos acharam que não ia dar tempo de montar e encher a banheira, mas, graças a Deus, minhas contrações ficaram mais tranquilas e suportáveis por um tempo, o que me permitiu “descansar” um pouco (se é que posso chamar aquilo de descanso! Kkk) e eles prepararem a banheira. Andar do meu quarto até o escritório para entrar na banheira foi horrível, mas entrar naquela água quentinha foi maravilhoso... Já estava sentindo vontade de fazer força há um tempo, mas o trabalho de parto ainda não andava para o expulsivo. Já na banheira, depois de momentos de certo relaxamento, as contrações foram ficando bem fortes e eu pude sentir a cabecinha do Miguel! Que delícia sentir que ele estava chegando! Nesse momento, lembro que me bateu um medo. Medo de ser mãe, de não dar conta do recado...
E é claro que nessa hora, mais uma vez, recebi palavras de apoio. Não sei por quanto tempo fiquei sentindo a cabecinha dele, só sei que em algum momento essa cabecinha foi saindo e, então, ele veio de uma vez (já tinha visto partos onde a cabeça sai primeiro e depois vem o corpinho, mas com ele não foi assim). Eu peguei o meu filho e o coloquei nos meus braços de uma forma tão instintiva! Só tinha amor e instinto alí naquele lugar... E ele se mexeu, chorou e ficou ali nos meus braços recebendo amor meu, do pai e de todos os presentes. E cantei para o meu amorzinho, cantei para ele se acalmar e saber o quanto o amava... Senti tanto amor e tanta paz! Saí da banheira com ele nos meus braços para esperar a saída da placenta. Foi uma delícia conversar com ele, cantar pra ele, amamentar... E assim ficamos por mais de uma hora. Eu estava tão em êxtase que que não reparei a movimentação e as conversas ao meu redor. Foi quando a Letícia me disse que iria fazer minha transferência para o hospital e me explicou o motivo: minha placenta ainda não tinha saído e eu estava perdendo muito sangue. Ela verificou que haviam se formado muitos coágulos que estavam dificultando a saída da placenta. Apesar de, inicialmente, ter ficado triste com a transferência, principalmente porque o Miguel teria que ir para o hospital comigo, eu entendi que essa decisão era técnica e que eu tinha que confiar na equipe que me acompanhava. O médico backup foi avisado e disse que nos esperaria no hospital com toda a parte da internação já adiantada. Recebi os primeiros cuidados em casa (soro com ocitocina e oxigênio) e segui de carro para o hospital com o Marcus, a Letícia e a Lara. O Miguel foi para o hospital com as titias Tati, Renata e Nina. Fui bem recepcionada na maternidade (não sofri bullying!) e isso me fez ter certeza do quanto valeu a pena ter um médico backup ao invés de ter que contar com um plantonista da emergência. No hospital recebi uma sedação e o Dr. Bruno retirou minha placenta (que saiu integra) somente puxando, o que foi muito bom e evitou outros procedimentos. Fiquei internada de sábado para domingo e no domingo de manhã recebi alta. Como o Miguel estava bem, ele não precisou internar e ficou como meu acompanhante no quarto! Por isso, ele não passou por nenhuma intervenção desnecessária e ainda pude amamentá-lo durante a noite!
Muitas pessoas podem achar que o parto acabou mal e que isso reforça a justificativa por não ter o parto em casa como opção. Eu discordo. O nascimento do Miguel foi lindo e sempre lembrarei dele dessa forma! E essa uma hora que passamos agarradinhos no pós parto foi importantíssima para nós dois. Além disso, quem sabe como é o planejamento de um parto domiciliar, sabe que fazemos um plano de parto e que nele colocamos como gostaríamos que tudo acontecesse, inclusive em uma possível transferência. E todos os meus desejos de respeito comigo e com o meu filho foram seguidos nessa transferência para o hospital. Assim, tudo ocorreu como tinha que ocorrer e não guardo nenhum sentimento ou lembrança ruim desse momento final. Muito pelo contrário, sei que tudo ocorreu como Deus planejou para mim. Essa transferência também foi interessante para mostrar para as pessoas mais resistentes que uma boa equipe atua de forma acertada antes que qualquer problema mais sério aconteça.
Sempre acreditei que o parto é um momento especial na vida de uma mulher que opta por ser mãe, independente da forma como ele venha a acontecer. Mas eu só posso falar da minha experiência: ela foi linda! E talvez porque ainda estou cheia amor e ocitocina pelo parto recente, desejo que toda mulher passe por essa experiência, se assim quiser!


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