Parto Domiciliar: que materiais a equipe leva?
- nascentia
- 8 de fev. de 2015
- 5 min de leitura
Quando uma gestante fala que vai ter um parto domiciliar, um dos primeiros questionamentos que escuta é "mas e se acontecer alguma coisa?" seguido de um discurso que alega irresponsabilidade e outras coisas mais. A verdade é que a maioria das pessoas não faz a menor ideia do que as equipes levam para atender um parto domiciliar. Estamos falando aqui de equipes técnicas com a devida habilitação para atender partos domiciliares e que atuam baseadas nas evidências científicas para garantir a segurança do atendimento.
Cabe lembrar aqui que existem diversos estudos que mostram que, para gestações de baixo risco o parto domiciliar é tão seguro quanto o parto hospitalar, quando atendido por essas equipes.
Quando falamos de gestação de baixo risco, ou de risco habitual que é a terminologia mais atual, já eliminamos uma série de intercorrências comuns nos hospitais que atendem todo tipo de gestantes. Somado ao fato de que um parto em casa segue seu processo fisiológico, sem intervenções, as chances de acontecerem intercorrências são bem pequenas. A taxa de transferência de partos domiciliares gira em torno de 10 a 15%, sendo a maioria desse número, transferências eletivas e as por emergência, representam cerca de 2% desse total, dependendo do estudo.
E para essa pequena parcela, uma equipe capacitada, com os materiais adequados é capaz de contornar a maioria dos problemas sem que o parto se torne uma tragédia só porque aconteceu fora do hospital.
Bom, mas quais são os materiais e para que servem?
O mais básico para todo parto: o sonar! O sonar é um aparelhinho portátil, que permite monitorar os batimentos cardíacos do bebê durante todo trabalho de parto. É ele que nos mostra que está tudo bem. De modo geral, se os batimentos cardíacos do bebê se alteram, o que chamamos de frequencia cardíaca fetal não tranquilizadora (o famoso " sofrimento fetal"), nós transferimos a gestante para o hospital para que aquele bebê que demonstra algum sinal de que não está bem, nasça em ambiente hospitalar da forma mais segura possível.

Um bebê que tem os batimentos cardíacos monitorados e dentro dos padrões da normalidade durante todo trabalho de parto, dificilmente precisará de mais alguma coisa ao nascer do que ser aquecido e colocado em contato pele a pele com sua mãe.
Porém, alguns bebês podem precisar de algum estímulo para respirar ao nascerem, os mais deprimidos precisarão ser ventilados, com o ambu, esse balão com máscara da foto. Ao contrário do que muita gente pensa, bebês não devem ser reanimados com oxigênio! O oxigênio é usado como últmo recurso e a maioria dos bebês vai responder aos primeiros passos de ventilação com pressão positiva, sem que seja preciso usá-lo.
Nós sempre preparamos um cantinho para reanimação durante o trabalho de parto, que de preferência deve ser feita perto da mãe, com o cordão umbilical ainda ligado. Nesse material, ainda temos um aspirador portátil que não aparece na foto, embora já saibamos que não é preciso aspirar os bebês para renimá-los e esse passo já tenha saído da reanimação de protocolos de alguns países, a prática ainda é recomendada pela Sociendade Brasileira de Pediatria, por desencargo, ele está lá, embora nunca tenhamos usado!

Faz parte dos materiais usados para o bebê ainda o aquecedor de ambiente e uma manta térmica que usamos para aquecer os paninhos que serão usados para secá-lo ao nascer.
São os únicos itens usados na maioria das vezes! Ao nascer, o bebê é aquecido no colo materno e ficam juntos pelo menos durante a primeria hora de vida e somente depois fazemos os cuidados: cortar o cordão, pesar e medir.

E para o cuidado materno?
A maioria das mulheres só precisará de apoio, de materais para o conforto durante o trabalho de parto como a bola, banqueta de parto e a piscina. Para os partos que seguem sem intercorrências, além dos materiais de conforto, a mulher pode eventualmente, sofrer lacerações que precisarão de sutura. Nós levamos esse material. Tudo é feito de forma asséptica e com anestesia local.


Quando falamos de emergência, a intercorrencia materna mais comum é a hemorragia (3%) que podem ter diferentes causas, que podem ser contornadas com os materias que levamos na maioria dos casos. O atendimento inicial é o mesmo feito nos hospitais: medicação (ocitocina, entre outras), reposição de volume (isso inclui um acesso venoso e infusão de solução) e outras medidas como massagem uterina e uso de um balão intra útero para conter o sangramento. A maioria dos casos é contornada com essas medidas e dependendo do controle do sangramento, quantidade de sangue perdida e estabilidade hemodinâmica da mulher, nem sempre ela precisará ser transferida para o hospital.

E bom, toda essa tralha nos faz levar uma grande mala para os atendimentos!


Nós levamos os materiais necessários para a maioria das intercorrências e temos capacitação para agir diante delas. Mas, podemos garantir 100% de desfechos felizes? Não. Essa garantia não acontece nem dentro do hospital. Estatisticamente, algumas intercorrências podem evoluir mal ainda que com todo aparato e profissionais capacitados. Aqui, cabe a você estudar, ler as evidências, conversar com a equipe escolhida, entender o que os riscos significam e decidir o que acha mais seguro para você e o seu bebê.
E os materais para que os pais precisam providenciar?
A partir de 37 semanas, o bebê já pode nascer em casa e tudo tem que estar providenciado. Quando acompanhamos um casal, procuramos dar uma listinha com os materais, com fotos para faciliar a visualização, do que precisam para o parto em casa. A maioria são coisas que temos em casa: lençol, toalhas de banho, fraldinhas ou cueiros para secar o bebê, pano de chão, balde e descartáveis: protetores para colchão, plástico para forrar a piscina, entre outros.
O único material técnico que precisam providenciar é o aluguel do cilindro de oxigênio: o cilindro é alugado em lojas específicas para essa finalidade e entregue em casa e fica em sua casa até o parto acontecer. O aluguel mensal, geralmente tempo necessário que ele fica disponível, custa em média R$200,00 aqui em Brasília.
Nós da Nascentia, preferimos trabalhar dessa forma em relação ao oxigênio por segurança, um cilindro de gás não pode ser transportado de qualquer forma e achamos imprudente transitarmos de um lado para o outro da cidade, com um cilindro dentro do carro.
No Brasil, não existe um protocolo que determine o que são os materias básicos ou obrigatórios para um parto domiciliar, por isso os materias podem variar de acordo com a equipe. Nós levamos tudo que achamos necessário para lidar com as principais intercorrências e para promover um cuidado seguro para mãe e bebê.
Comentários